Esportes

Crônica ataca Leila Pereira e
tropeça na própria armadilha

DANIEL LIMA - 16/10/2023

Ouvi ontem à noite, enquanto preparava o jantar de minhas cachorras, a prova provada de que a crônica esportiva caiu em contradição ao esgrimir argumentos rasantes e equivocadas. Tanto que não tenho dúvidas, como já não as tinha, de que Leila Pereira mexeu num vespeiro no Palmeiras e no entorno do ecossistema do futebol.  

O futebol brasileiro é mesmo um vespeiro de conservadorismo no pior sentido do termo. E para não dizerem que uso um termo de direita, então uso um de esquerda também. A crônica esportiva em larga escala é a vanguarda do atraso. É regressista em pele de progressista. 

O Palmeiras de Leila Pereira (e seu grupo de gestão administrativa) que é o mesmo Palmeiras de gestão do futebol (com o técnico Abel Pereira) está muito acima do Palmeiras histórico quando a métrica é a média de conquistas e resultados mensuráveis nos gramados – e é disso que o torcedor de verdade gosta. A autoestima esportiva dos palmeirenses desde alguns anos é de lascar para os adversários.  

MAIS QUE LEILA  

A história do Palmeiras jamais se restringirá ao Palmeiras a partir de Leila Pereira, estendendo-se ao Palmeiras durante o período em que Leila Pereira seguir como presidente. Mas o Palmeiras de Leila Pereira nestes últimos anos é o melhor Palmeiras que o Palmeiras já ofereceu à sua torcida e o maior desgosto às torcidas adversárias, que temem o Palmeiras como fonte de dores de cabeça, quando não de inveja.  

Vou tentar traduzir o que significa dizer que o Palmeiras de Leila e de Abel está muito acima do Palmeiras histórico, até porque foi essa a mensagem corajosa, embora parecesse arrogante para alguns, de Leila Pereira na melhor entrevista deste ano no futebol brasileiro. 

Estar acima da média do Palmeiras histórico está na construção de uma equipe vencedora durante largo tempo sem que se apresente o amanhã como um tiro no próprio pé por supostamente cair na armadilha comum das equipes brasileiras de dispensarem o futuro como a melhor prestação de contas do passado. O futuro sempre cobra a fatura.  

CICLOS OSCILÁVEIS  

A rotina dos clubes brasileiros vencedores durante determinado ciclo temporal é entregar sucatas financeiras e técnicas aos sucessores. Corinthians, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Flamengo, Botafogo, Vasco estão aí como provas provadas. Só o Flamengo reagiu neste século e mesmo assim está trepidando nestes tempos.  

Em divisões inferiores do futebol brasileiro, temos casos domésticos de trapalhadas que sempre ocorrem. Do São Caetano respeitado enquanto vivia de doações de Saul Klein, do Santo André que passou por catástrofe com o Saged de Ronan Maria Pinto e do São Bernardo do político Luiz Fernando Teixeira e dinheiros do PT.   

Todos os argumentos expostos pelos comentaristas da Jovem Pan na tentativa de minimizar os efeitos extraordinários da gestão de Leila Pereira se converteram em arapucas a eles mesmos, golpeando-os sem se darem conta.  

Uma trajetória (que os comentaristas procuraram negar ou sobre a qual fizeram um voo panorâmico como se não fosse nada importante) que começa, de fato, quando Leila Pereira passou a patrocinar a equipe.  

APAGÃO BUMERANGUE  

Eles, os comentaristas da Jovem Pan, proporcionaram um apagão de inteligência e ponderações ao tentarem sustentar críticas a Leila Pereira sem o devido anteparo. Eles projetaram o que seria o Palmeiras sem Leila Pereira (um clube de amplo sucesso, com as finanças em ordem, com títulos importantíssimos em série que catapultaram o valor de mercado da marca, entre tantos outros ativos) justamente tendo como base o Palmeiras de Leila Pereira.  

Se o leitor não entendeu, vou explicar com um exemplo simples. Imagine uma loja de sapatos que vai mal das pernas, com temporadas de balanços satisfatórios e outros deficitários, até que um dia, um belo dia, aparece um novo gerente de marketing e em seguida esse mesmo gerente de marketing assume a gerência do estabelecimento e implanta série de mudanças.  

Resultado? Sucesso total. A loja de sapatos ganha valor de mercado com base nos resultados de venda correspondente à atuação do gerente e a temporada de marqueteiro, ou seja, nos resultados do balanço atual, não do balanço anterior à chegada do profissional.  

BASE DE SUCESSO  

No caso da gestão de Leila Pereira, os cronistas da Jovem Pan esqueceram desse princípio elementar. Ou seja: o Palmeiras de 2023, que supostamente prescindiria de Leila Pereira, é a base de cálculo de futuro mais promissor.  

Eles, os cronistas, não recorreram ao Palmeiras de 2014, quando por pouco (eles, os cronistas e o ex-presidente Paulo Nobre tornaram a verdade de Leila Pereira uma ofensa), a equipe não revisitou a Série B do Brasileiro.  

Leila deixou os palmeirenses enfurecidos ao lembrar que o Palmeiras só não caiu graças ao Vitória da Bahia na rodada final.  

Houve quem entre os comentaristas da Jovem Pan reiterasse que o patrocínio das empresas de Leila Pereira representaria apenas 15% dos valores arrecadados pelo Palmeiras. A informação foi colocada à mesa com o sentido explícito de desqualificar ou reduzir a importância da atual presidente do Palmeiras. 

OLHEM OS NÚMEROS  

Seria o caso de o comentarista dar uma espiada no balanço do Palmeiras antes da chegada de Leila Pereira com os patrocínios de sua empresa e verificar detalhadamente qual era o volume de recursos financeiros dessa rubrica.  

Além disso, poderia apresentar planilha detalhada dos respectivos valores absolutos e percentuais das áreas de então. E, claro, juntar o desempenho em campo daqueles últimos cinco anos.  

Se os patrocínios da Crefisa e da FAM representarem mesmo apenas 15% do Palmeiras de hoje, temos um case de sucesso ainda maior do que o perceptível, porque os valores despendidos pelas empresas estão entre os maiores do futebol brasileiro para uma equipe que conta com apenas um terço da massa flamenguista e menos da metade da massa corintiana. Se a correlação abranger resultados em campo, tudo será ainda mais humilhante aos críticos.  

Outra maneira de dimensionar o que são os 15% de agora dos patrocínios é comparar com o que era (valores utilizados) antes da chegada de Leila Pereira em 2015 num confronto com a mesma especificidade.  

ANTES DA PRESIDÊNCIA  

Os cronistas da Jovem Pan fizeram de tudo para tentar esconder que o Palmeiras começou a mudar a partir do dinheiro injetado pelas empresas da empresária Leila Pereira. Tempos depois, juntou-se a fome do dinheiro com a vontade de comer do estilo de administração de Leila Pereira. Deu no que deu.  

E deu no que? Numa máquina azeitadíssima de ganhar jogos contra todos os adversários no time principal e de fazer das equipes de base maquininhas de conquistas nacionais, além de reforçarem permanentemente o time principal. 

É claro que Paulo Nobre, presidente ressentido que tem muita simpatia da crônica esportiva paulistana, contribuiu para o sucesso do Palmeiras, mas, e aí está mais uma escorregadela de contradição dos cronistas, muito se deve aos dinheiros injetados por Leila Pereira ainda na fase de patrocínios, quando Nobre chegara ao Palmeiras.  

Um dos cronistas da Jovem Pan chegou ao ponto de considerar a entrevista de Leila Pereira a pior da temporada. Jamais, em tempo algum e desde muito tempo tivemos uma exposição tão providencial de uma representante de um clube tão importante na hierarquia nacional.  

MESMICE MIDIÁTICA  

Leila Pereira chocou a mesmice da mídia porque teve a coragem e a ousadia de se manifestar sobre vários aspectos do futebol brasileiro, entre os quais (e sobre os quais os cronistas se calam sempre e sempre) o comportamento criminoso de membros de torcidas organizadas – o que não é exclusividade palmeirense – que vandalizaram quatro dezenas de pontos comerciais da Crefisa após a eliminação da equipe nas semifinais da Taça Libertadores.  

Uma eliminação na fase semifinal, a quarta participação consecutiva nessa etapa registrada por uma equipe que ganhou nesse intervalo, com Leila e Abel, duas vezes a maior competição da América. 

Insisto num ponto que pareceu espécie de guarda-chuva dos demais: a insensatez alucinante, quando não alucinógena, de projetar o Palmeiras do futuro sem Leila Pereira a partir da desconsideração estúpida de que todos os cálculos projetados estão conectados na herança presente de Leila Pereira.  

AÇÃO CONTRAPRODUCENTE  

Ninguém teve a ousadia de buscar no passado os dados financeiros, econômicos e de médias esportivas do Palmeiras antes da chegada de Leila Pereira.  

A impressão que tive é de que não houve nada deliberadamente pensado, porque seria contraproducente em dobro, na tentativa de levar aos torcedores a ideia de que eventual saída de Leila Pereira não seria problema algum para o Palmeiras porque o Palmeiras é o Palmeiras, quando de fato o Palmeiras de hoje é o Palmeiras da gestão de patrocinadora e principalmente da presidente Leila Pereira.  

Ao dividir o Palmeiras antes e após chegar ao Palmeiras, Leila Pereira pode ter cometido sim um erro de avaliação política, mas esse é um custo rigorosamente inferior aos ganhos de que a verdade dos fatos é sempre preferível ao cinismo e à hipocrisia, quando não a uma suposta equivalência histórica que está longe, mas muito longe da realidade exposta pela própria história.   

O palmeirense que tiver um pouquinho de bom-senso sobre o Palmeiras destes tempos deveria dar uma espiadinha no debate da TV Gazeta envolvendo as duas opções reservadas à próxima presidência de Corinthians.  



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