Dirigentes do Esporte Clube Santo André não confirmam os valores, tampouco emitiram qualquer comentário que detalhe a operação de resgate da dívida deixada pelo Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), durante os cinco anos de privatização da equipe.
Entretanto, conselheiros com acesso aos balanços da agremiação garantem: chegará a R$ 10 milhões o prejuízo provocado pelo Saged aos cofres da agremiação.
O primo-pobre do futebol da região está pagando em silêncio uma conta que era do Saged. Não vou ser repetitivo. Os trechos que seguem logo abaixo, e que retratam a situação em questão, parecem suficientes para elucidar qualquer dúvida.
O Esporte Clube Santo André sofreu os reveses de uma privatização aparentemente bem desenhada, mas sabotada pelo voluntarismo da direção do empreendimento.
O Santo André estaria pagando nos próximos meses as últimas parcelas do acordo judicial. O valor atual giraria em torno de R$ 150 mil. Para se ter ideia do quanto isso significa, todo o elenco e comissão técnica que o Santo André organizou para disputar a Série D do Campeonato Brasileiro desta temporada custou mensalmente R% 80 mil.
Não é preciso ser especialista na arte de montar uma equipe para chegar à conclusão de que o Santo André faria muito mais na competição, eliminado que foi na primeira fase, se contasse ao menos com metade do valor despendido a cada 30 dias para saldar dívida de uma empresa privada que deu com os burros nágua.
Insistir para que algum dirigente do Santo André avaliasse os efeitos da dívida resgatada a cada 30 dias é um convite ao constrangimento. Veja o que escrevi há cinco anos.
Santo André já paga dívida
milionária deixada pelo Saged
DANIEL LIMA - 03/12/2018
O Santo André já pagou duas das 80 parcelas mensais de R$ 80 mil reais em cumprimento à decisão judicial reveladora do quanto foi prejudicial a terceirização do futebol pelo Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), empresa que contou com o empresário Ronan Maria Pinto como comandante. Uma parcela de R$ 83.824,16 completará a sentença judicial. Há possibilidade de os valores serem reajustados além dos já definidos, caso o Santo André suba à Primeira Divisão de São Paulo. Se no período de resgate da dívida o clube disputar ao menos três edições da Série A Paulista, a dívida ultrapassaria a R$ 8 milhões, sem considerar a correção de 6% ao ano.
Foram cinco temporadas de gestão do futebol do Santo André pelo Saged. O saldo final foi sofrível, após breve lua de mel com o sucesso: de vice-campeão paulista a integrante da Série A do Campeonato Brasileiro, o Santo André caiu para a Sexta Divisão do Futebol Brasileiro, o que é na prática a Série B do Campeonato Paulista. Uma história que acumulou dívida até hoje indevassável, além do sucateamento da então vitoriosa estrutura de formação de jogadores.
A decisão do juiz Márcio Bonetti, da 7ª Vara Cível de Santo André, foi anunciada em 30 de agosto último. O Santo André detinha os direitos econômicos do meia-atacante Antonio Flávio em parceria com o Clube Andraus Brasil, do Paraná. Entretanto, a direção do Saged não repassou ao parceiro os valores contratuais a que tinha direito quando o atleta foi negociado com o futebol sueco.
MAIS SAGED
Acionistas do Saged procuram manter a decisão judicial longe dos holofotes. Com os dirigentes do clube não é diferente. Mas o resultado da ação judicial é claro quanto às obrigações do clube, que está tentando fazer acordo com os acionistas do Saged para ressarcir-se. Executado, o Santo André pagará R$ 6.483.824,16 referentes ao crédito principal, no qual se inclui R$ 1.612.431,09 de honorários advocatícios. A cada 12 meses as parcelas serão reajustadas em 6%. Em caso de inadimplência, ficou ajustada multa de 30% sobre o débito em aberto.
Em caso de acesso à Série A do Campeonato Paulista, o Santo André terá as parcelas aumentadas em 40%, o que elevaria as obrigações mensais a R$ 112 mil. Mas os valores mensais retornarão à origem em caso de o Santo André voltar à Série B Paulista.
As consequências financeiras do fracasso do Saged, consumado em 2012, são completamente desconhecidas. Alguns acionistas garantem que o empresário Ronan Maria Pinto teria assumido dividas remanescentes. Menos no caso envolvendo o Clube Andraus, porque o ex-dirigente do Saged cumpre prisão em Curitiba por conta da Operação Lava Jato.
MAIS SAGED
Na edição de 14 de dezembro de 2012 (portanto há praticamente seis anos), escrevi uma das dezenas de textos que acompanharam atentamente a parceria entre Santo André e Saged. Transcrevo alguns trechos da matéria sob o título “Saged é herança maldita que vai atormentar futuro do Ramalhão”: “A mais que esperada retirada da cena esportiva do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), empresa que terceirizou o futebol do Ramalhão em meados de 2007 e que entregou a rapadura formalmente nestes últimos dias, vai deixar um rastro de prejuízos que somente o tempo atenuará. Mais que a caixa-preta do déficit acumulado, uma enormidade quando confrontado com o potencial orçamentário da equipe, vão pesar mesmo na condução da agremiação que voltou ao ninho do Esporte Clube Santo André os estragos na imagem. O modelo diagramado pelo então presidente do EC Santo André, Jairo Livolis, foi destruído pelo centralismo autoritário do empresário Ronan Maria Pinto. Tanto fora como dentro de campo o Ramalhão é um renegado social. A sociedade não só ignora a agremiação como lhe oferecerá muita resistência a eventuais chamamentos. Os torcedores organizados são seu único patrimônio latente. Os demais envelheceram, se decepcionaram e estão céticos.
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05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?