Esportes

Por que Leila Pereira incomoda
tanto os marmanjos do futebol?

DANIEL LIMA - 13/10/2023

Leila Pereira já tem passado e presente suficientes para dispensar a presidência do Palmeiras. Já o Palmeiras de passado e presente de glorias precisa de Leila Pereira para não sofrer abalos. Os dois anos de presidência de Leila Pereira e quase uma década de parceria econômica colocaram o Palmeiras no topo do futebol brasileiro. A parceria com o técnico Abel Ferreira é o maior sucesso de público, bilheteria e bola na rede.  

Quem se dispuser a pesquisar e observar o Ranking do Futebol Brasileiro da Folha de S. Paulo vai notar que o Palmeiras jamais ganhou tantos pontos classificatórios como nos últimos 10 anos de influência indireta ou direta de Leila Pereira.  

Tudo isso e muito mais não são obra do acaso. É uma coleção de qualificativos conjugados e entrelaçados que constam do dicionário da língua portuguesa. Leila Pereira é um time inteiro formado pela terceira letra do alfabeto.  

Se você quer uma dica sobre apenas uma das 11 qualificações que constam da terceira letra da língua portuguesa dicionarizada perderá tempo se buscar na abertura desta análise. Tive o cuidado de suprimir qualquer vestígio que pudesse dar encaminhamento a que se encontrasse uma pérola sequer.  

ENTREVISTA BOMBÁSTICA  

Mas no fundo não é preciso esquentar a cabeça para pescar essas qualidades. Basta acompanhar a entrevista de Leila Pereira nesta semana a múltiplos veículos de comunicação. Uma entrevista que causou estridências nas faixas mais conservadoras de ex-dirigentes do clube. E cutucou a onça de torcidas organizadas opressoras.  

O Palmeiras de Leila Pereira e do técnico Abel Ferreira não chegou aonde chegou após quatro temporadas incompletas porque os deuses do futebol resolveram conspirar para tanto sucesso.  

Os deuses do futebol podem até ter influenciado, mas está no terreno sólido da materialidade planejada, coordenada e executada a razão central de o Palmeiras dar inveja aos adversários. Inclusive ou principalmente ao meu time alvinegro de tantas lambanças diretivas consumadas nos gramados vexatórios. 

Torcer contra o Palmeiras é pura perda de tempo. É construir um fosso de decepções. O Palmeiras é o melhor clube das últimas temporadas do futebol brasileiro. Supera todos os demais, mesmo sem ter sido até agora o melhor time entre todos no gramado, cetro que cabe ao Flamengo de Jorge Jesus.  

Mas o Flamengo de Jorge Jesus foi chuva de verão. O Palmeiras de Leila e Abel é de quatro estações do ano há várias temporadas. Isso é planejamento. Como planejamento não cabe no esquadrinhamento da terceira letra do alfabeto, posso utilizá-lo sem receio. É um agregado de valor.  

TERCEIRA LETRA 

Agora vou aos finalmentes. Quem é a Leila Pereira que vi naquela entrevista e, mais que isso, a Leila Pereira que há anos reconfigurou o Palmeiras sempre ameaçado de rebaixamento. O Palmeiras mudou tanto a ponto de colocar em dúvida quando não em xeque senão em processo de desmoralização a máxima de que futebol não tem lógica. 

Futebol tem toda a lógica quando o Palmeiras entra em campo com o pragmatismo de laboratório do técnico Abel Pereira. Só não existe lógica para o Palmeiras lógico quando um mata-mata se apresenta e reduz a lógica a míseros 90 minutos ilógicos.  

Agora vou escalar o time da terceira letra do alfabeto que define Leila Pereira, essa mulher da entrevista mais extraordinária desta temporada no futebol brasileiro.  

Uma entrevista que reduziu a pó a maioria dos marmanjos que comandam as equipes do futebol brasileiro. Uma entrevista que jogou no lixo toda essa política modernosa de identitarismo e de protecionismo. O brilho de Leila Pereira dispensa cota de gênero, não custa repetir.  

Mais que isso: fosse resultado de cota de gênero ao ocupar a presidência de um clube de futebol, algo que não pode ser retirado de perspectivas politicamente corretas, Leila Pereira possivelmente não se livraria do peso e da desconfiança de que não seria tudo o que é de fato.  Leila Pereira não precisa fazer mais nada no Palmeiras para ser reverenciada como a melhor dirigente que já passou por lá. 

CARISMA – É impressionante como as virtudes de Leila Pereira a transformam em personagem carismática. Nas fotos e aparições breves Leila Pereira é mulher comum, dessas que não parecem o que são de fato. A cada frase de Leila Pereira na entrevista, a personalidade forte a inseria num patamar insuspeito.  

CORAGEM – As declarações sobre bandidos de torcidas organizadas em geral é um épico de coragem que deveria envergonhar a maioria do ecossistema do futebol, de jogadores a dirigentes, de dirigentes a jornalistas, de jornalistas a tudo o mais.  Leila Pereira os desafiou. O Palmeiras não tem dono e se dono tivesse não seriam esses bandoleiros da intimidação, de ameaças e de agressão. 

COMPROMISSO – Qualquer palmeirense que não seja estúpido deve ter captado que Leila Pereira é uma âncora de equilíbrio administrativo. O passado ainda breve, mas elucidativa prova isso. Não temos uma carreirista clubista a qualquer custo. Leila Pereira fala do futuro com segurança e descarta o futuro fugaz com eloquência. Jogadores em fim de carreira que querem se aposentar no Brasil, retornando dos estrangeiros? Nem pensar.  

COMPROMETIMENTO – Essa é uma virtude que muitas vezes se confunde com a anterior. Compromisso é uma estrada ampla na qual a atenção é máxima para que acidentes não ocorram. Comprometimento é um emaranhado de viadutos que se cruzam e que estão muito além do horizonte próximo. Leila Pereira não pretende fazer do Palmeiras um clube vitorioso durante algum tempo. Ela o quer vencedor durante todo o tempo. Por isso planejamento muito além da próxima esquina. O Palmeiras de Leila Pereira parece quebrar a mesmice da concorrência que, quando vitoriosa, inebria-se e se perde no futuro que sempre chega. 

COOPERAÇÃO – As declarações de Leila Pereira foram enfáticas no sentido de que há um triunvirato à frente do futebol do Palmeiras, formado por ela mesma, o técnico Abel Ferreira e o diretor de futebol Anderson Barros, outro alvo das torcidas organizadas. Leila Pereira não se furtou a desafiar os detratores. Postou-se em defesa do profissional. O regime de cooperação e de lealdade raramente resiste. O egocentrismo a cada título conquistado costuma provocar atropelamentos. 

CONTUNDÊNCIA – Leila Pereira exibiu durante a entrevista a tranquilidade emocional de mulheres com autoestima em dia, mas não deixou de destilar verbalização mais contundente na forma e no conteúdo que diferenciam quem comanda e quem é comandado. 

COERÊNCIA – Testada em algumas situações que expuseram supostas armadilhas éticas em forma de conflito de interesses entre a ocupação da presidência e a parceria comercial de empresas das quais é acionista, Leila Pereira não fraquejou um instante sequer. Foi coerente ao dar profundidade às explicações. Mais que isso: denunciou manobras diversionistas de empresas supostamente interessadas em ocupar o espaço do marketing palmeirense que tem a exibição da marca Crefisa como principal atrativo.  

COMANDO – Por mais que demonstrasse o reconhecimento de que conta com dois executivos do futebol como peças-chaves do sucesso do Palmeiras, Leila Pereira não precisou afirmar porque seria cabotinismo: ela comanda o período mais vitorioso do Palmeiras. Um comando compartilhado, sólido e à prova toda vez que a equipe entra em campo, porque esse é, no futebol, o território democrático em que se diferenciam talentos e fraudes.  

CONTROLE – O controle exercido por Leila Pereira deriva do comando ou o comando de Leila Pereira deriva do controle? É claro que controle é insumo profissional de quem comanda, porque sem comando não existe controle. Leila Pereira não abriu espaço a tergiversações. É objetiva, pragmática, calculista e franca. Ou seja: não é uma caixinha de surpresa desagradável. Leila Pereira transpirou a ideia de que não haveria jamais surpresa em qualquer resposta que expusesse. Seguiria sempre uma linha de racionalidade. 

COMPANHEIRISMO – O carinho com que Leila Pereira trata os mais próximos de seu comando e controle a qualifica como executiva do futebol a salvo de personalismos. A discrição com que se move à frente do Palmeiras num período em que a humanidade de maneira geral está vocacionada ao exibicionismo das redes sociais provavelmente é a melhor forma de definir a personalidade da comedida Leila Pereira  

COMPETÊNCIA – É proposital a hierarquização de competência no último degrau do time de virtudes de Leila Pereira. De fato e para valer, competência é sinônimo de tudo que veio antes. É o somatório de especificidades que perdem o sentido de independência qualificativa quando o que prevalece é mesmo o sentido de equipe, de planejamento, de compartilhamento de compromissos.  A arte de costurar todos esses ativos é o toque de Midas de conquistas do Palmeiras. Leila Pereira é a multiplicação desses 11 fatores que, dispersos, sem elo de aproximação e transversalidade, não reproduziriam o que se observa nos gramados.  

Para torcedores do time que desde criancinha me escraviza, Leila Pereira poderia acrescentar mais uma terceira letra do alfabeto, inspirando os dirigentes do velho rival a saírem da pasmaceira de muitos anos e, finalmente, frequentarem a estrada da felicidade. Não é o Corinthians que faltaria no léxico de sucesso esportivo de Leila Pereira. É o espírito construtivo de Leila Pereira que falta ao Corinthians.



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