O São Bernardo já está nas quartas de final do principal campeonato estadual do País. Deverá dar trabalho ao favoritíssimo Palmeiras. O Santo André saiu a toda velocidade, mas murchou a cada rodada. Já está fora da próxima fase.
A lógica do futebol não vale para um jogo isolado, mas prevalece ao longo de uma competição. O que separa o Santo André do São Bernardo é o conceito de clube-empresa e os entornos de modelos antiquados.
Ainda faltam duas rodadas para o encerramento da primeira etapa da Série A-1 do Campeonato Paulista, o Grande ABC nunca ganhou tantos pontos desde que as três equipes (a outra é o Água Santa de Diadema) disputaram conjuntamente a competição, mas o sucesso coletivo não pode esconder a realidade individual.
E a realidade individual é objetivamente clara: ou o Santo André adota a legislação da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) ou a diferença não só em relação ao São Bernardo, mas também a outros clubes de porte médio vai se agigantar. Quando acordar, poderá ser tarde.
LIGA NACIONAL
E o futuro será complicado mesmo. Vem aí, a partir de 2025, o futebol sob o guarda-chuva de uma liga nacional que terá bilhões a compartilhar entre participantes da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro. Quem não pegar essa onda vai ficar mais próximo do afogamento competitivo.
O Santo André é uma loja que vende futebol de forma competitiva três meses numa temporada de 12 meses. É a Série A-1 do Campeonato Paulista.
O São Bernardo desta temporada passará a ser uma loja que vende futebol nos 12 meses do ano, já que subiu para a Série C do Campeonato Brasileiro. A Série C do Brasileiro não é um grito de alforria econômica e competitiva, mas é um passo na direção das vantagens da Série B de forma consistente.
Diante da situação que está posta, permanecer na Série A-1 do Paulista é um feito e tanto do Santo André.
DAS TRIPAS, CORAÇÃO
O Santo André é, entre os 16 participantes, um dos poucos clubes associativos sem ligações empresariais. O presidente Celso Luiz de Almeida faz das tripas coração para dar à equipe, a cada nova temporada, o mínimo de competência de modo a permanecer na competição.
A operação consiste em uma série de medidas, entre as quais a formação da equipe o mais cedo possível, para iniciar trabalhos de preparação antes das demais. Mas há fundas limitações.
Se o Santo André não arrancar bem nas primeiras rodadas, como mais uma vez arrancou neste ano, mais estará pressionado pelo rebaixamento.
A explicação é simples: as seis primeiras rodadas em geral são reservadas à organização técnico-tática das equipes na nova temporada. É a metade do calendário da primeira fase, que decide quem será rebaixado.
O Santo André arrancou bem e as pressões que se exacerbam nas rodadas finais foram diluídas. Com 14 pontos, dois acima da linha supostamente de corte ao rebaixamento, o Santo André respira aliviado.
CALENDÁRIO COMPLICADO
Chegar às quartas de final são outros quinhentos. O São Bernardo, do mesmo grupo classificatório, chegou lá. Tem mais estrutura, mais jogadores, mais tudo. Só não tem a tradição e a torcida do Santo André. Mas torcida e tradição não entram em campo em determinadas situações de disputa.
Enquanto espera a boa-vontade da Prefeitura de Santo André, entre outras coisas não dimensionáveis, mas que ultrapassam o limite do bom-senso, o Santo André vai-se virando como pode no calendário paulista.
E mais uma vez disputará a Série D do Campeonato Brasileiro, competição eliminatória mais que classificatória e que nem deve ser considerada sustentável e sinônimo de loja aberta, porque é o último vagão de formalidade da Confederação Brasileira de Futebol.
Ultrapassar a barreira da Série D (apenas os quatro primeiros colocados sobem, enquanto os demais voltam a concorrer por uma vaga na competição nas disputas estaduais) é o grande desafio.
ENGRENAGEM ENFERRUJADA
O que a Prefeitura de Santo André faz para o Santo André seguir como clube associativo sujeito a, numa situação de vulnerabilidade ainda maior, ceder espaço a composições societárias nem sempre satisfatórias, não é o que se poderia chamar de responsabilidade social. A engrenagem está enferrujada.
Há um ano e meio a SAF foi aprovada pelo governo federal e desde dezembro pelo clube, mas a gestão de Paulinho Serra não se digna a definir e aprovar termos de concessão do Estádio Bruno Daniel.
Não haverá interessado compatível com o que se pretende de segurança para o Santo André do futuro que decida fazer negócio com a agremiação sem ter a garantia de uso do Estádio Bruno Daniel nos moldes de tantos outros estádios municipais, casos de São Bernardo e São Caetano, por exemplo.
MUNDOS DIFERENTES
Por essas e tantas outras razões, qualquer comparação entre o sucesso do São Bernardo na Série A-1 desta temporada e o Santo André apenas discreto na competição precisa ser relativizada e contextualizada.
De um lado temos um clube empresarial que está longe de ser o modelo ideal para o Santo André, mas que está muito acima da realidade do Santo André.
De outro temos um time associativo que sabe o risco que corre a cada nova temporada que se abre no principal campeonato estadual do País e o quanto é vulnerável na competição seguinte, se houver competição seguinte, no caso da Série D do Campeonato Brasileiro.
Depois da desastrosa experiência de cinco anos com a Saged, clube-empresa em que o regime de cooperação foi para o buraco do centralismo, o Santo André sabe que não pode errar a mão no próximo passo rumo à modernização do empreendedorismo de chuteiras.
Está na hora de uma reação do prefeito Paulinho Serra, levado à Galeria dos Ramalhões na festa que marcou a largada do Santo André na Série A-1 deste ano.
LIBERTAÇÃO OU SUJEIÇÃO?
As amarras que adiam indefinidamente a libertação e a oxigenação do Santo André de um modelo ultrapassado precisam ser eliminadas. O silêncio dos pecadores é parceiro do silêncio dos cautelosos. Tudo em prejuízo do futebol e da sociedade de Santo André.
Pena que o São Bernardo tão exemplar na exposição do modelo de clube-empresa (após livrar-se do petismo que o usurpou em substituição ao clube social inicial) ainda não tenha despertado os torcedores locais. Mas isso é outra história, que fica para outro texto.
Dentro de campo e no comando diretivo, o São Bernardo dá de goleada no Santo André. A explicação que alguns não enxergam é que a loja de 12 meses não encontrou barreiras para se instalar no mercado da bola. A loja de três meses vem sendo torpedeada sem parar, mas aceita tudo em silêncio.
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05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?