Sociedade

O que fazer para fazer
o que precisa ser feito?

DANIEL LIMA - 30/04/2024

Abro o coração, a alma e tudo o mais para transformar em transparência o que anda me incomodando de uns tempos a essa parte: devo ou não devo me meter numa jornada de determinado grupo político nas eleições municipais que se aproximam? Há mais veredas existenciais a enfrentar do que acreditam os mais criativos ou maledicentes.

Como decidi desprezar hoje minha porção hitchcockiana, a resposta é absolutamente sim. Três vezes sim. Mas com limites. Tudo pelo que chamo de Grande ABC Sociedade Ilimitada. Que não tem nada a ver com o Grande ABC em formato de Arquipélago Cinza.

Grande ABC Sociedade Ilimitada são todos nós, independentemente de quaisquer recortes. É o conjunto deformado em busca de uma conformidade capaz de imantar porções potencialmente complementares. Somos o acúmulo da estupidez coletiva. Não enxergamos o que nos aproximam. Preferimos transitar pela insanidade da criação de muros. Vivemos separados por paredes que nós mesmos criamos.

Arquipélago Cinza é o oposto de Sociedade Ilimitada. Uma casa da sogra institucional, política, econômica e social. Mais que uma: sete casas da sogra. Os autonomistas em meados do século passado decidiram partir e repartir o que o mais tarde virou uma festa de improdutividades coletivas.

VALORES CONTRADIÓRIOS

Se temos um desejo antigo de equalizar um ponto de equilíbrio entre o jornalismo e atividades gerais, por que então me meter mato adentro de um projeto de determinado grupamento político-partidário? Convenhamos que não é algo que deva ser visto como natural. É por conta disso, repito, que ando perdendo um pouco o foco em outras coisas.

Costumo dizer que sou igualmente autista e esquizofrênico. Autista porque tenho um poder de concentração extraordinário. O mundo pode literalmente desabar que nada abala as sinapses quando me lanço a escrever ou a ler. Principalmente a escrever.

Se um avião cair no meu escritório residencial nesse momento, vou para o outro mundo sem ter a mínima ideia do que aconteceu. Esse é meu lado autista.

DOIS EM UM

O lado esquizofrênico, que já expliquei aqui outro dia e alguns não entenderam porque para entender muitas coisas na vida é preciso prestar atenção e se despir de preconceitos, meu lado esquizofrênico está na pessoa física crédula e sempre pronta a cair em qualquer conto do vigário enquanto  a pessoa jurídica desconfia de tudo.

Pois eu sou isso mesmo, dois em um, com cada qual no devido quadrado. Quem levou o tiro no rosto foi a pessoa física. A pessoa jurídica teria reagido desde o início do incidente. Sou obrigado a recorrer a esse exemplo para que a maioria entenda meu quadro de esquizofrenia.

Agora, voltando ao que interessa, imagine como estou diante da possibilidade de participar tecnicamente, por assim dizer, de uma campanha eleitoral?

Teria muito a escrever. Há uma cláusula pétrea da qual jamais abriria mão: o interesse social conjugado com a lealdade aos pretendentes à Administração.

CELSO HUMILDE

Não é a primeira vez que um dirigente político me procura para fazer o que acredito que mais sei fazer nessa terra de cegos econômicos: planejar e executar um projeto que sirva de ponto de partida a algo inadiável há 300 anos: dotar um determinado Município de ferramental filosófico, por assim dizer, e seus desdobramentos, para iluminar a obviedade que está obscurecida pela multiplicidade de pautas rasas: dar um choque de realidade nas durezas dos prélios que a região vem cultivando há quase quatro décadas.

Celso Daniel criou a primeira secretaria de Desenvolvimento Econômico da região assim que assumiu o mandato em 1997 por conta de minha sugestão. Ele mesmo tornou isso público. Celso Daniel era um homem simples, atento às nuances. Jamais encontrei no mundo público alguém com suas qualidades de relacionamento.

Realizar eventualmente como agente público algo que passe a pertencer ao portfólio de uma gestão conduzida pelo voto popular seria inesquecível. Complementaria o que tenho profusamente proposto ao longo de 35 anos de CapitalSocial, antes LivreMercado. E que ainda recentemente, num piscar de olhos, elenquei em 100 Desafios para o Grande ABC, disponível ao consumo dos leitores desta publicação.

CONJUNTO FAZ DIFERENÇA

Seria jumentice de minha parte ignorar que para levar adiante a possibilidade de reformar completamente os conceitos e as práticas municipais da região no trato da Economia, pondo fim à ensebação que já ultrapassou todos os limites, seria necessário  abrir mão do conjunto da obra de uma possível Administração consagrada nas urnas.

O conjunto do governo faria enorme diferença. As peças do mosaico precisam de encaixe a partir de determinadas definições técnicas combinadas com meandros político-partidários.

Estou avançando demais o sinal e não quero isso como porta-bandeira de eventual encontro com aqueles que me requisitam à empreitada. Certo mesmo e posso garantir que teria algum valor individual e coletivo na tentativa de sensibilizar a aplicação de determinadas políticas públicas.

O que posso antecipar é que acho indispensável colocar no papel um projeto que seja prático, sem ilusionismos, portanto. Foi o que, aliás, fiz à frente do Diário do Grande ABC em 2004, quando cheguei para a direção do jornal com 100 mil caracteres de uma Planejamento Estratégico Editorial revolucionário, que só durou 11 meses e abordou um plano inicial de cinco anos.

TRABALHO EM EQUIPE

Ler aquele legado desprezado é um chute nos fundilhos da racionalidade porque o que se passou em duas décadas naquela publicação é o que todo o mundo observa hoje. Não acredito em projetos e ações de curto prazo. De médio-prazo já é um caminho a comemorações. De longe prazo, é o máximo.

Sempre tive facilidades para trabalhar em equipe, embora nos tempos de mais testosterona aplicasse um temperamento abrasivo que, autocritica feita, me lançava em busca de parceiros de jornada que fossem diferentes para que o ambiente de trabalho se revestisse ao mesmo tempo de aquecimento  em forma de desafios a superar e desaquecido nos momentos mais críticos.

Temperamento e caráter são porções distintas da natureza humana, mas se retroalimentam para o bem e para o mal.  Temperamento em forma de duplicidade antagônica é o combustível a jornadas positivas ou negativas. Caráter  é tanto o temporizador quanto dinamitador. Há idiotas que confundem caráter e temperamento. Caráter  é único e prevalecente, ou bom ou mau. Temperamento também pode ser dividido em duas partes. Não existe fórmula mágica a condecorações que definam um determinado tipo de temperamento ideal. Sem o acompanhamento de caráter, qualquer temperamento, plácido ou borbulhento, não vale nada.   

Quem fez com uma equipe inesquecível a melhor publicação regional do País disparadamente, disparadamente, disparadamente, tem alguma coisa a acrescentar na vida útil que ainda dispõe. Daí o convite recebido ter sido interpretado como um desafio.

AO TRABALHO, PESSOAL

Se tiver a possibilidade de levar o trabalho adiante, vou festejar a vida. Caso contrário, a vida será comemorada igualmente. Só quem tem menos tempo no futuro do que o tempo do passado sabe o quanto cada dia é decisivo à proclamação da própria vida. Quem está no terceiro e último ciclo de vida deveria ser levado mais a sério por aqueles que jogam o tempo fora.

Ainda tenho muito a ruminar sobre o que poderia fazer fora das quatro linhas de uma tela de computador, depois de fazer dentro de campo inclusive na área social. Minhas Madres Terezas, meus Prêmios Desempenhos, tudo isso não tem preço. Fórum da Cidadania, então, o que dizer: inesquecível inclusive nos erros cometidos por todos. O maior laboratório regional de todos os tempos. Quem viveu o Fórum da Cidadania viveu as contradições da região. E provavelmente lamenta muito o tempo que passou e o desmonte daqueles legados pela geração que está em campo, ou por omissão ou por ações danosas.

Precisamos exorcizar o presente da região. E não será com fórmulas mais que manjadas, além de desprezíveis.



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