Afinal de contas, quem nasceu primeiro na escala de importância? O ovo de ouro do Desenvolvimento Econômico ou a galinha depenada da violência urbana? Qualquer análise que considere o bom-senso como farol do futuro desembocará evidentemente na primeira alternativa. O prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, Marcelo Lima, acaba de anunciar que o macrotema do primeiro ano à frente da entidade é a galinha depenada da violência urbana.
É impossível deixar de explicar a metáfora acima. O ovo de ouro do Desenvolvimento Econômico é muito mais importante, embora não se deva desprezar jamais o segundo enunciado. Principalmente no caso do Grande ABC, endereço bombardeado como jamais na história nos dois últimos anos do governo de Dilma Rousseff.
Vou reproduzir em seguida uma síntese daqueles dados que, vejam só que coisa maluca, apenas este jornalista em todo o Brasil foi capaz de garimpar, esquadrinhar e destrinchar. A Detroit à Brasileira não interessa mais à mídia nacional porque a mídia nacional descobriu que a Detroit à Brasileira perdeu o charme que murchou com a queda do sindicalismo e, também, com a descentralização automotiva.
GALINHA ALQUEBRADA
Mas, voltemos ao ovo de ouro e à galinha maltratada. A metáfora é pertinente entre outras razões porque é didática aos leitores com conhecimento econômico menos atualizado, por assim dizer.
Ainda filosofando sobre materialidades, o ovo de ouro de Desenvolvimento Econômico nasce em importância histórica antes da galinha depenada da violência urbana, mas não há como separar um do outro. Afinal, o outro só existe por causa do um malcuidado, quando não negligenciado.
O Grande ABC é um caso emblemático do ovo de ouro do Desenvolvimento Econômico e da galinha depenada, quando não manquitolenta, da violência urbana.
Uma sociedade, instituições pública e empreendedores incapazes de cuidar do futuro, porque se imaginou um futuro sempre próspero, cava a própria sepultura em forma de galinha alquebrada. E foi o que se deu por essas bandas.
SEM SURPRESA
Diante disso, seria compulsório que tanto os prefeitos quanto o Clube dos Prefeitos se preocupassem há pelo menos três décadas com o andar torto da galinha depenada. Qual nada. O Clube dos Prefeitos vai completar agora em dezembro 35 anos de criação e o prefeito dos prefeitos Marcelo Lima toca a viola da obviedade de dar atenção ao ambiente criminal sem, entretanto, respeitar a plateia, quando não clientela tributária, sobre a prioridade do incremento econômico.
Nenhuma surpresa, entretanto, se dá no anúncio de Marcelo Lima. Três meses já se passaram e o prefeito municipal também prefeito regional não enxergou a premissa de uma pauta desenvolvimentista.
Tanto é verdade – e sou obrigado a erguer novamente a porta-bandeira de uma desfaçatez – que escolheu para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo um analfabeto econômico chamado Rafael Demarchi por razões político-eleitorais.
UM OVO PODRE
O ovo do Desenvolvimento Econômico nasceu primeiro que a violência no Grande ABC porque aqui ancoraram e deitaram ramificações da indústria mais venerada, embora mais competitiva também, do mundo. O setor automotivo transformou São Bernardo e o Grande ABC num portfólio político, econômico e social de Primeiro Mundo. Até que tudo desabou ao longo das três últimas décadas. E continua a desabar.
O ovo de ouro está virando ovo podre e a galinha da violência urbana tende a ser ainda mais comprometida. É verdade que essa mesma galinha, que está longe ser morta, tornou-se menos explícita e mais entranhada na sociedade. A matança caiu sustentadamente.
Conciliações intramuros tornaram a região menos fluminense na área criminal. Os números deste século provavam isso, como ainda mostrei outro dia. Em contraste, portanto, com os painéis de descontrole dos dados econômicos fortemente estilhaçados.
Fosse minimamente cuidadoso, quando não atencioso, quando não inquieto, quando não esperto, o prefeito Marcelo Lima teria anunciado aos quatro cantos que o temário mais importante do Clube dos Prefeitos não só nesta temporada, mas em todas as próximas temporadas, seria o Desenvolvimento Econômico em variados tentáculos.
Mas como Marcelo Lima seria o que deveria ser se Marcelo Lima não sabe distinguir no campo econômico um ex-vereador e candidato derrotado a prefeito que não entende bulhufas de economia de um especialista qualquer, mesmo sem intimidade regional, na pior hipótese de escolha, que ao menos entendesse o significado de PIB, montadoras de veículos, logística e tantas outras coisas.
VAMOS AOS NÚMEROS
Os leitores sabem que não estou exagerando um tiquinho, tampouco um Memphis, quando faço considerações sobre o secretário Rafael Demarchi. O menos importante, de fato, é mencioná-lo como símbolo de um fracasso anunciado. O que pretendo atingir no sentido crítico é mesmo quem o escolheu. Uma escolha infeliz que, pelo andar da carruagem, será prioridade durante os quatro anos de mandato.
Para eleger o ambiente criminal urbano como prioridade do Clube dos Prefeitos, mesmo com o Grande ABC apresentando avanços inimaginados nos últimos 20 anos, a reboque do assassinato de Celso Daniel, Marcelo Lima precisa desconhecer os dados econômicos.
Duvido que os conheça, porque se os conhecesse o crime de falta de foco é ainda maior. É a Economia que poderá amenizar o ambiente regional em todos os sentidos, a partir da recuperação da mobilidade social, que, provavelmente para muito que frequentam o Clube dos Prefeitos, é confundida com mobilidade urbana.
Só para os leitores entenderem a gravidade da situação do ovo do Desenvolvimento Econômico que gerou a galinha penada da violência urbana, basta dizer que São Bernardo de 2016 acumulava em relação a São Bernardo de 2014 (esse o período mais grave do governo Dilma Rousseff) nada menos que a perda de 32,76 do PIB (Produto Interno Bruto). E no caso do Grande ABC, que é o âmago do Clube dos Prefeitos, a perda do PIB Geral é 26,32%. Mais de três vezes maior que a perda média do PIB Nacional.
DETALHANDO OS DADOS
Se você está assustado com esses números, cabe esclarecer. O PIB do Grande ABC em 2014, ponto de partida dos estragos de Dilma Rousseff, registrou o valor nominal de R$ 120.330.715 bilhões. Dois anos depois, em dezembro de 2016, quando Dilma já havia sofrido impeachment, o PIB Geral da região registrou R$ 112.048.654 bilhões.
Agora vem a operação matemática, com a atualização da moeda com base na inflação do IPCA: para empatar com a inflação, o Grande ABC de 2016 deveria registrar PIB de R$ 141.545.020 bilhões. O vácuo entre o inflacionado e o valor real de produção de riqueza tem a banda larga de R$ 29.496.366 bilhões já mencionados.
Sabe o leitor o que significa o buraco de R$ 29.496.366 registrado pelo Grande ABC naqueles 24 meses letais e, repito, jamais tão devastadores na história regional? Significa que o buraco representava, em valores de dezembro de 2016, praticamente todo o PIB Geral de Santo André. Ou seja: o Grande ABC perdeu uma Santo André de geração de riqueza durante os dois últimos anos de Dilma Rousseff. Ou 26,32 PIB Geral.
PONTO CENTRAL
Marcelo Lima deveria ser o ponto central de um amplo projeto de recuperação econômica do Grande ABC. Recuperação econômica que poderia se dar ao luxo de desprezar o passado pré-Dilma para que as metas não se tornassem estúpidas.
Sabem os leitores qual foi o desempenho do PIB de São Bernardo (tratamos aí em cima do PIB do Grande ABC) durante os mesmos dois anos fatais de Dilma Rousseff? Houve perda liquida de R$ 13.803.590 bilhões, ou 32,76%3%. O PIB nominal de São Bernardo de R$ 47.551.620 em 2014 passaria para atualizados R$ 55.934.970 bilhões em 2016, caso a economia local corresse na mesma raia da inflação do período. Como não passou de R$ 42.131.380, a queda é de 32,76%.
Como a economia de São Bernardo registrou números que não deram conta nem mesmo do valor nominal, ou seja, sem a aplicação do critério essencial da inflação, o rombo foi extraordinário.
PÉSSIMA ESCOLHA
Embora nos últimos anos, mesmo com a pandemia, São Bernardo tenha recuperado uma parte do que perdeu, ainda contabiliza perdas enormes que serão conhecidas em detalhes quando as versões mais atualizadas do PIB, do IBGE, forem reveladas. Haverá um recuo discretíssimo nos nove anos seguintes. O estrago se espalhará por muito tempo ainda.
A Capital Econômica da região continuará sendo derrotada internamente, ou seja, na disputa com seus próprio passado recente, e muito mais nos embates extra região.
É por isso que tanto no espectro local, de Município, quanto de regionalidade, dos sete municípios, a escolha do carro-chefe temático do prefeito dos prefeitos Marcelo Lima é um escorregadela à beira do precipício da sensatez.
Desprezar a derrocada econômica da cidade em que foi eleito e da região que institucionalmente comanda é a assinatura com firma reconhecida de que Marcelo Lima prefere a galinha depenada ao ovo de ouro.
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22/04/2025 PIB: LULA IMBATÍVEL? DILMA IRRECUPERÁVEL?