Regionalidade

CLUBE DOS PREFEITOS:
FORTUNA OU MIXARIA?

DANIEL LIMA - 21/03/2025

O prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos e os demais prefeitos integrados ao Clube dos Prefeitos fazem parte de uma encenação de regionalidade chamada Clube dos Prefeitos. Há três  meses de forma oficial e  há cinco meses caso se considere o período pós-vitórias eleitorais, o que temos é uma nova turma de prefeitos sem aptidão para dinamizar o Clube dos Prefeitos.

Por enquanto, só fumaça, festinhas, manchetes, redes sociais e tudo o mais. Uma farra de marketing. Pior que isso, se é possível, é ter manifestações de idiotas contratados para aplaudirem o reprovável. Sem a participação efetiva da Capital, cantada em prosa e verso de maneira precipitada, parece que a paixão pela regionalidade refluiu nos últimos dias. Muito dinheiro paulistano constava do roteiro regional.

A premissa básica de que regionalidade é o resultado coletivo de planejamento, iniciativas e monitoramentos de uma cadeia que se retroalimenta de forma a dar embocadura organizacional a uma bagunça histórica leva à conclusão de que Marcelo Lima e seus pares não passam de embromadores. Como têm muito tempo de mandatos municipais pela frente, quem sabe reajam. Por enquanto, não passam de promessas frustrantes.

QUESTIONAMENTO PERTINENTE

Por conta disso e da expectativa que se cria a cada momento em que aparece um ou mais prefeitos da atual turma para desenhar um Clube dos Prefeitos diferente do passado, nada melhor que responder à indagação da manchetíssima no topo desta análise.

Primeira pergunta: O Clube dos Prefeitos vale uma mixaria e custa uma fortuna?

Segunda pergunta:. O Clube dos Prefeitos vale uma fortuna e custa uma mixaria?

Qual dessas duas equações sentenciais é a verdadeira? As duas. As duas. As duas. Não existe contradição. É a pura realidade. E vou explicar.

O Clube dos Prefeitos sempre valeu politicamente uma mixaria para a quase totalidade das turmas de prefeitos que desde 1990 integraram o colegiado. Sempre houve resistência à manutenção do organismo. Tanto que o Clube dos Prefeitos praticamente se resumiu ao prefeito de plantão delegado à condição de prefeito dos prefeitos. Os demais não se integravam jamais. Os valores basicamente residuais da Receita Total, sempre foram observados como desperdícios que deveriam ser banidos do orçamento municipal. E não foram poucos os casos de inadimplência de associados.

FORTUNA E MIXARIA

O Clube dos Prefeito sempre custou uma fortuna aos municípios associados, com exceção de algumas situações que confirmam a regra, exatamente porque o presidencialismo estatutário sufocou a relação de colegiado que não se manifestava nas manchetes de jornais.

Por mais que os municípios consorciados concordassem com as contribuições estatutárias, o sentimento de assalto ao bolso dos contribuintes municipalistas atormentava os prefeitos.  Pagar um sétimo da mesada e não valer nada no regime presidencialista constituía a fornalha da rejeição ao próprio colegiado.

Espero ter sido compreendido após essa explicação. No fundo, temos uma situação desdobrada apenas porque pretendia forçar um pouco minha própria barra de criatividade. Seria mais fácil dizer em tom objetivo que o Clube dos Prefeitos é uma fortuna como custo de investimento das prefeituras e uma mixaria de resultados diante da premência de o Grande ABC se organizar e se reestruturar coletivamente.

Para embaralhar ainda mais minha cabeça e provavelmente a cabeça dos leitores, diria sem firulas que o Clube dos Prefeitos é objetivamente para os prefeitos um trambolho institucional que custa caro para ser mantido. Portanto, com cinco meses sob nova direção, depois de a direção anterior sofrer o impacto de duas evasões contestatórias, casos de São Bernardo e de São Caetano, o mínimo que se poderia esperar diante do noticiário surpreendente evocador à valorização do Clube dos Prefeitos é que grandesmudanças se fariam anunciadas.

CADÊ O DINHEIRO?

Qual nada. Um encontro patético com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que desencantou a todos ao negar integração formal à entidade, e também  muita papagaiada dos prefeitos, especialmente de Marcelo Lima, e eis que temos o Clube dos Prefeitos semelhante a tantas turmas antecedentes.

E do jeito que está caminhando, conseguirá a proeza de ser a pior turma do Clube dos Prefeitos de todos os tempos. Vai superar a que contou com a influência malévola de Paulinho Serra durante oito anos. Um período em que o então prefeito de Santo André envenenou o terreno da regionalidade com a finalidade exclusiva de buscar projeção extra-território local.  

EFEITO-TOSTINES

Seria ótimo se o Clube dos Prefeitos valesse tecnicamente, além de institucionalmente,  uma fortuna e custasse não mais que uma mixaria. Bastaria que o Clube dos Prefeitos funcionasse minimamente, sobremodo no campo de Desenvolvimento Econômico.

Seria ótimo se pudéssemos brindar o efeito-Tostine e dizer que o Clube dos Prefeitos custa pouco em termos orçamentários porque vale uma fortuna de resolutividades programáticas.

No caso, infelizmente, o efeito-Tostine não funciona como metáfora. Muito diferente disso, porque não se sustenta como nexo de causalidade mesmo que subliminar.  Acho que o efeito-Tostine se manifesta defato como oposto, de que vale uma mixaria em termos técnicos e custa uma fortuna em termos organizacionais.  Seria, então, o efeito-Maizena?

Acho que os leitores deveriam se preocupar mais com o Clube dos Prefeitos. Daí a necessidade de observarem a mídia independente na região. Subestimar a regionalidade é um grande erro, tanto quanto acreditar em propagandas travestidas de noticiários. Desconfiem sempre – e de todos, sem exceção.  

Ações reestruturantes no Clube dos Prefeitos são o ponto de partida e de chegada à competitividade econômica e ao equilíbrio social. Quanto mais tempo correr e quanto mais inações se perpetuarem, mais desceremos a ladeira desenvolvimentista.

Por conta disso e de uma tradição de vigilância, análise, críticas e cobranças históricas, este jornalista não vai abrir mão não só de acompanhar atentamente os passos de Marcelo Lima e de sua turma como, principalmente, manifestar-se como espécie de soldado da regionalidade escassa, maltratada, vilipendiada e manipulada.

MIXARIA CUSTA CARO

O custo da regionalidade do Clube dos Prefeitos é o resumo da ópera da desfaçatez com que os titulares dos paços municipais, desde sempre, explicitam desatenção às próprias vísceras filosóficas da instituição.

Tanto é verdade tudo isso que da Receita Total de cada município do Grande ABC, reserva-se ninharia orçamentária ao Clube dos Prefeitos.

Sabe quanto é o compromisso anual das cidades integradas ao Clube dos Prefeitos? Preparem-se para não caírem da cadeira.  A resposta é 15% de 1%. Compliquei? Não precisa chamar a Dilma Rousseff para responder. Quinze por cento de um por cento é exatamente quanto? Não mais que 0,15%.

Isso mesmo: de cada R$ 100,00 da Receita Total de cada Município, apenas míseros R$ 0,15% são direcionados à administração do Clube dos Prefeitos. É uma mixaria perto da média de 1,8% das Câmaras de Vereadores que, salvo exceções circunstanciais, são puxadinhos do Executivo, quando não comparsas dos Executivos.

Tomando-se por base o resultado orçamentário de 2022, o mais atualizado, a Receita Corrente Total dos cinco maiores municípios do Grande ABC (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão fora, mas não passam de 2,5% do total regional), foram arrecadados R$ 13.553 bilhões. Pegue 0,15% disso e o leitor chegará à cota miserável e ao mesmo tempo dispendiosa do inútil Clube dos Prefeitos. Perto de R$ 20 milhões. Os vereadores consumiram R$ 245 milhões.

Convenhamos que o valor despendido na rubrica de regionalidade é mesmo uma merreca. Esse valor, ou seja, 15% de 1,0%  -- e mesmo o triplo desse valor -- está distante da imperiosidade de se preparar um time de primeira linha para dirigir tecnicamente o Clube dos Prefeitos. Uma  consultoria especializada em competitividade regional, estadual e internacional, é a saída.

Lamentavelmente, entretanto, predomina uma direção executiva de baixíssima qualificação diante dos desafios econômicos que há muito tempo tiram o sono de quem enxerga o Grande ABC sem tapa-olhos desqualificadores.  



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