Sociedade

O QUE ENSINAM OS CASOS
SAUL KLEIN E DANIEL ALVES?

DANIEL LIMA - 04/04/2025

O açodamento com que a mídia em geral pratica juízo de valor sem dispor de provas desencadeou uma nova reviravolta, agora no caso do jogador Daniel Alves, na Espanha. O modelo especulativo  produzido pelo chamado jornalismo profissional que se acha acima de qualquer suspeita, e faz disso estratégia para praticar exageros e abusos, sofreu nova invertida. Mas os estragos são monumentais.

Qualquer reflexão sincera sobre os procedimentos cada vez mais comuns quando o sexo entra em campo precisa considerar os dois lados da moeda informativa.

O primeiro é que os fatos reais não podem ser desprezados como farol de ênfase informativa para que relatos consistentes sejam consumidos pedagogicamente.

O segundo é que relatos inverossímeis, relapsos, inconsistentes, enfraquecem todos os casos em que não  há dúvidas quanto à legitimidade de demandas judiciais.

JOIO E TRIGO

Separar o joio de forçadas de barra sensacionalistas do trigo da realidade fundamentada e por isso mesmo a caminho da Justiça deveria transitar em julgado ético da informação sem ressalvas.

O caso Saul Klein se assemelha ao caso de Daniel Alves no encontro das águas da espetacularização sem limites. Tudo que separa um caso do outro em busca de julgamentos ajustados aos pressupostos de fazer justiça é outra história. 

Formam-se cada vez mais filas de vítimas do apressamento de noticiários lubrificados por fontes especulativas e igualmente por testemunhos sem lastro de materialidade. O vale-tudo no campo de relacionamento interpessoal de intimidades violadas de uma forma ou de outra tem múltiplas tipologias. Todas convergem a um show de horrores.

Não é possível estabelecer o que chamaria de alinhamento automático entre o assassinato social a que foi submetido Saul Klein e o assassinato de reputação de Daniel Alves quando o que se coloca na mesa de debate é a essência da veracidade. É fundamental que se dê materialidade às narrativas, transformando-as em fatos.

Por isso, a cautela de definir linhas distintas entre os dois casos é medida de segurança argumentativa. Que, entretanto, não retira um centímetro do imbricamento que unifica os mesmos dois casos, ou seja, a mistureba de fazer de especulações verdades absolutas.

CASO CELSO DANIEL

Ha mais de duas décadas Sérgio Gomes da Silva foi escolhido pelo Ministério Público, sem qualquer prova, bode expiatório do assassinato do prefeito Celso Daniel. Diante da falta de convergência entre o enredo pretendido que vinculava o crime aos desvios administrativos, os agentes do MP ultrapassaram a barreira dos fatos, tornando-os supérfluos. 

Tudo teria sido resolvido se o PT entregasse aos agentes do MP enviados pelo governador Geraldo Alckimin o troféu pretendido – a confissão de Sérgio Gomes sobre as lambanças financeiras na Prefeitura de Santo André.

O PT de Lula da Silva, então virgem, teria perdido a eleição presidencial de 2002. Em resumo: Sérgio Gomes da Silva salvou o PT, mas não salvou a si mesmo. Morreu socialmente em vida antes de morrer biologicamente de câncer.

CASO SAUL KLEIN

Por conta do desfecho temporário ou não do caso Daniel Alves, volto depois de muito tempo ao Caso Saul Klein, herdeiro da Casas Bahia que, durante muitos anos, quer na mansão em Alphaville, quer numa chácara no Interior do Estado, usufruiu de dinheiro farto para viver uma vida cercado de mulheres. Nada que a Constituição não lhe garanta, o bolso não suporte e determinadas mulheres não deixam de amar.  

Enquanto o caso Daniel Alves está derretendo no Judiciário espanhol, o caso Saul Klein ainda está imerso na burocracia policial e judicial. Mas há similaridade entre os dois quando se procura encaixar um golpe no enredo tornado público pelo sensacionalismo midiático: falta sustentabilidade fática, como dizem os especialistas na arte de produzir Justiça. Traduzindo: faltam provas materiais e documentais. Sobram salivas lascivas.

No caso Saul Klein, vai-se mais à frente: a inexistência de qualquer prova além da liberdade para mentir em testemunhos pessoais contrasta com dezenas de fotografias  que colocam o acusado e as supostas violadas  em situação de comprovadas festas de arromba. As mulheres parecem mais felizes que o próprio anfitrião.

ANFITRIÃO E REFÉM

Qualquer um que tenha dois neurônios poderá observar, nas fotos disponíveis, que Saul Klein era o ponto de adoração das convidadas. Uma atenção redobrada nos flagrantes constatará também que Saul Klein parecia inabalavelmente entregue às mulheres. A depressão que o abateu durante vários anos, comprovada em constantes visitas domiciliares de especialista, o tornava presa fácil às operações festeiras. Duas mulheres  comandavam a tropa feminina. Eram todas regiamente recompensadas a usufruírem da montanha de dinheiro do anfitrião.

Vou repassar em seguida dois textos que oferecem mais informações. O primeiro foi produzido por este jornalista assim que estourou a notícia de que o filho de Samuel Klein era um batedor de carteira sexual com um currículo de dezenas de mulheres violadas. O segundo, refere-se a Daniel Alves.

Sobre o primeiro tenho amplo conhecimento. Sobre o segundo, fico claramente com o noticiário da semana passada que dá conta da sentença de liberdade ao jogador que fez fama na Seleção Brasileira.

MÍDIA IMPLACÁVEL

O caso Saul Klein consta de mais de três dezenas de textos que produzi ao longo do tempo após o noticiário que ganhou manchetes do portal UOL, da Folha de S. Paulo e de dezenas de endereços da mídia digital e também de papel. Sem contar o sensacionalismo do Fantástico, o documentário da CNN, o documentário do UOL e tantas outras peças do mais cruel ataque à honra do suposto agressor.

As mulheres que Saul Klein supostamente teria violentado sexualmente eram mulheres idiotizadas, a julgar pelas narrativas da imprensa. Afinal, como pode dezenas de vítimas voltarem reiteradamente, sempre alegres e festivas,  ao suposto local do crime? E elas estavam sempre de volta, usufruindo do dinheiro do anfitrião.

Todas foram arregimentadas por uma intermediária, cafetina na linguagem do mundo sexual,  que dispunha de um braço controlador feminino dentro dos próprios domicílios do anfitrião malvado. Era uma ex-namorada de Saul Klein, testemunha verbal única da narrativa da promotoria criminal. Uma mulher com seríssimos desajustes familiares. Em suma, Saul Klein violador de mulheres de fato era refém de mulheres dominadoras de dezenas de mulheres.

CHANTAGEM E RETALIAÇÃO

O que houve é do conhecimento deste jornalista por estar este jornalista, coincidentemente, muito próximo de Saul Klein um pouco antes de estourar a bomba deliberadamente plantada para fazer o estrago que fez.

Há especulações que colocam a origem do Caso Saul Klein na investida política como candidato a vice-prefeito em São Caetano. E tantas outras versões, inclusive tendo como núcleo a complexa herança familiar.

Em suma, a interrupção do circuito de gastança determinada por Saul Klein provocou retaliações. Saul Klein vivia sequestrado dentro da própria casa. Em depressão profunda, entregou-se às duas mulheres que o controlavam. Foi o suficiente para, chantagens desarmadas, desencadear-se a denúncia ao Ministério Público.

Uma promotora em busca da fama e de votos que lhe faltaram na eleição seguinte para a Câmara dos Deputados investiu pesadamente na destruição social de Saul Klein. O repasse à mídia de um processo unilateral, contraditório, insustentável como peça acusatória, deu o que deu. Saul Klein sofreu assassinato social que lhe custou, e ainda custa, inúmeros prejuízos financeiros,  não bastassem  danos morais e psicológicos.

A mídia em geral, por sua vez, jamais foi capaz de produzir qualquer peça informativa que oferecesse contrapontos à versão de criminoso sexual.

Seguem o primeiro texto que produzi sobre o Caso Saul Klein e, na sequência, o noticiário do g1 da semana passada, dando conta da liberdade de Daniel Alves. Temos dois casos semelhantes e contrastantes, portanto. A semelhança está no tratamento da mídia de mão única. O segundo, no contraste de um acusado recolhido durante anos ao próprio domicilio e o segundo exposto num ambiente público de entretenimento. 

 

O que estaria mesmo por trás do

assassinato social de Saul Klein?

 DANIEL LIMA - 04/01/2021

O que os leitores vão acompanhar a partir de hoje e em datas cronologicamente arbitrárias é muito mais que a história e um homem bem-sucedido, namorador de mulheres, mas atacado exatamente por mulheres controladas por outras mulheres. Paradoxalmente, essas mesmas mulheres usam de ardilosos artifícios para se autoproclamarem vítimas de estrupo e de outras supostas transgressões que ditam regras contemporâneas de comportamento social.  

Na primeira leva de denunciantes supostamente violentadas somaram-se 14 nomes. Outras 25 estariam na ponta da agulha de acusações que seguem o mesmo roteiro de detalhes, como cópias fiéis. É, portanto, um festival de versão única. Tão única que parece saída do forno da combinação prévia.  

Uma combinação tão prévia que está na alça de mira de ceticismo de quem não tem por ofício acreditar em tudo ou mesmo em quase nada. Até que se prove a verdade dos fatos. Depoimentos previamente preparados não oferecem garantia alguma de isenção e credibilidade.  

E a verdade dos fatos que dá suporte à avaliação de que se trata de assassinato social é que, por enquanto, o jogo jogado pela mídia é unilateral tanto quanto o jogo narrado pelo Ministério Público Estadual. Há muita água de contraditório a correr sob a ponte da Justiça, que não pode ser confundida com Justiçamento.  

INDÚSTRIA DO SEXO   

A Industria do Sexo, constelação de pequenas, médias e grandes empresas de eventos, está no centro do palco.  Quem acredita em combustão espontânea do Caso Saul Klein não sabe onde está colocando a própria reputação. Duvidar do conjunto de parágrafos sentenciosos da denúncia do Ministério Público Estadual é medida providencial. Explicações não faltam.   

Há muito mais ingredientes idiossincráticos em jogo. Inclusive mais dinheiro do que supõe quem conhece objetivamente a meta de moças em busca de futuro de abundâncias materiais. Ou alguém tem dúvida de que o que move a montanha de prazer das mulheres do prazer e dos homens namoradores igualmente desperta ambições na Bolsa de Valores, por exemplo?  

Os mais entranhados no mundo do sexo sabem que a comparação não é um crime. Uma coisa estaria ligada à outra em muitas cabeças masculinas. E femininas também.  

BOLSA DE MULHERES  

A bolsa de valores de mulheres é informal e praticada conforme as mãos invisíveis do mercado. Não apenas as mãos invisíveis do mercado. O instrumental é outro e se configura sob o princípio do consentimento, da conjunção carnal e de outras situações com ou sem eventuais restrições. Também flexibilizadas pelo mesmo mercado de acordo com a precificação monetária.   

Uma espiadinha nos sites da abrangente e abrasiva indústria do sexo discrimina preferências individuais e preços sobressalentes. Resta saber se, de tão massificado, trata-se mesmo de mercado paralelo ou o filão principal no interior da indústria de entretenimento sexual sob a cortina de eventos e outros badulaques de sensibilização.   

EVENTOS ESPECIAIS   

É muito difícil examinar o setor com olhares cândidos. Nem tudo que brilha de suposta sofisticação profissional é de fato atributo que valoriza a mulher sob o ponto de vista de comportamento convencional.  

Muitas das deslumbrantes mulheres que desfilam em eventos requisitadíssimos pela mídia, como os tradicionais salões do automóvel ou mesmo as etapas locais da Fórmula-1, são mulheres que não são apenas mulheres em atividade profissional explicitada. Há duplas ou triplas especialidades.  

Abundam mulheres que saltam dos sites do mercado digital de sexo diretamente às imediações das pistas de corridas e dos imensos centros de exposição de produtos e serviços.  

Diante da constatação de que o inquérito é uma coleção de depoimentos de supostas vítimas de estupro, mas sem provas, alguém tem dúvida de que, além da condenação judicial, mulheres denunciantes pretendem se refestelar no dinheiro de Saul Klein?  

ESTUPRO E ESTUPRO  

Não há entre as retardatárias denunciantes quem participou de festas e tenha registrado formalmente um único e eventual abuso do anfitrião namorador. Mais que isso: a frequência com que retornavam aos endereços citados no inquérito ministerial não se conecta a dissabores e horrores; muito pelo contrário.  

A situação se agrava com a propagação do crime de estupro denunciado por uma representante do Ministério Público Estadual. A etimologia técnico-judicial de estupro, em muitos casos, não é exatamente o que imagina a opinião pública. Sim, há diferença na definição técnica e na construção popular entre estupro que pressupõe penetração e estupro que também caracteriza pressão psicológica ou mesmo física sem consumação carnal. Quando o estupro técnico vira estupro jornalístico não há VAR cultural que reduza o estrago ao denunciado.  

MULHERES, MULHERES   

Muitos personagens do Caso Saul Klein são mulheres. As principais protagonistas são mulheres. Muitas mulheres a prospectar a possibilidade de levar Saul Klein a nocaute judicial não é uma ironia para um homem metido com as mulheres. É consequência. Tanto quanto as mulheres que começam a se movimentar em defesa de Saul Klein.  

Há duas listas em confronto nesse começo de disputa por uma narrativa que pretende capturar a atenção da opinião pública e influenciar as investigações. Uma das quais já escandalizada pela mídia.  

A primeira turma, articuladíssima e que redundou na denúncia do Ministério Público Estadual, é capitaneada por duas mulheres com a anuência ingênua ou crédula demais de outras duas mulheres.  

A segunda turma, em defesa do relacionamento namorador com Saul Klein, pretende restaurar a verdade dos fatos que o outro lado de mulheres combate por manter, depois de sair na dianteira contando com o apoio maciço da chamada Grande Mídia.  

Não se tem ideia, ainda, do quanto será intenso e dramático o processo de assassinato social de Saul Klein. Essa fase antecede investigações policiais e eventual decisão judicial.  

UM CORPO ESTENDIDO  

O empresário está subjugado pela mídia de versão única ou apenas supostamente equilibrada que dá destaque a versões que causam danos muitas vezes irreparáveis -- e mitigam o que é contraponto, como se fosse o resto do resto de argumentação.  

A Grande Mídia constrói imprecisões, omissões, falsas verdades e meias-verdades. Vai à velocidade máxima. Até que a opinião pública seja plenamente convencida de que o alvo em questão está aniquilado.  

Saul Klein é um corpo estendido no chão social. Mesmo que redes sociais, surpreendentemente, saiam em sua defesa. Mas redes sociais são uma coisa; interesses profissionais e pessoais de Saul Klein são outros. Os danos já são muitos. O que é difuso de um lado é específico de outro. As redes sociais servem de consolo a Saul Klein, mas não são o imunizam das denúncias.  

VINGANÇA DE MULHER  

A vingança de uma ex-namorada está se confirmando. Uma ex-namorada que virou fonte de informação do Ministério Público Estadual. Uma ex-namorada que a Imprensa poupa. Uma ex-namorada e coordenadora de jovens que, incrível, está entre as vítimas. Expor a ex-namorada é um passo à frente ao descredenciamento do modelo prescrito da versão de estupro do caso Saul Klein.  

Não é isso que a Grande Mídia pretende. Pior que isso: transforma a ex-namorada em fonte privilegiada e quase única de acusação. Caso do Fantástico, programa da Rede Globo no qual a ex-selecionadora atuou como espécie de âncora mascarada, quando não com imagem distorcida. Um recado subliminar de que a ex-namorada estaria supostamente em risco. Como se não fosse conhecida fartamente nas redes sociais em vestimentas íntimas e ações privadas.  A ex-namorada tem passivos desclassificatórios. 

MÚLTIPLAS TEORIAS   

A guerra deflagrada tem várias frentes que se fecham num mesmo objetivo: colocar Saul Klein fora de combate. Há certezas já caracterizadas e materializadas e especulações a apurar. São imensas e abrangentes as alternativas não excludentes de que tudo não tem parentesco algum com a denúncia de estupro.   

Teorias conspiratórias à parte, o que está em execução é um jogo pesado. Várias nuances ganham a perspectiva de ocuparem a mesma rede de interesses. Tudo tutelado pela ganância, pelo dinheiro. Muito dinheiro. Dinheiro do passado de fartura e do presente de escassez.   

O que era entretenimento, diversão, pecados da carne, virou crime. Pinta-se um monstro. Falta combinar com as imagens de felicidade geral do passado, que nem o Fantástico conseguiu esconder, embora transpirasse interesse no uso como prova denunciatória.   Falta combinar também com o contraditório de moças que, defensoras de Saul Klein, refutam a versão maciçamente divulgada. Elas defendem a namorador que outras chamam de estuprador. 

EMPACOTAMENTO GERAL  

Gradativamente se revelarão todos os pontos do caso Saul Klein. Alguns dos quais ainda fora de uma rede de segurança investigativa.  

Pense em tudo na órbita pessoal e profissional do empresário. Da política ao futebol. Da indústria do sexo ao inventário milionário da Família Klein. De amor não correspondido às tentativas de achaques tendo segredos íntimos como moeda de troca aviltante. Ter muitas mulheres é a multiplicação de prazeres e problemas de ter apenas uma mulher.   

Coloque tudo isso no mesmo invólucro, como se fosse um imenso presente de inimigos secretos e inimigos declarados. O resultado aparece em forma de Saul Klein. 

O grande desafio à compreensão do Caso Saul Klein é observar a situação além da simplificação denunciatória. O importante é unir os pontos em comum que dariam suporte a imensa constelação de interesses convergentes. O maior dos desafios é conciliar retalhos aparentemente dispersos; é unir alguns ou muitos pontos que fermentam o contexto.  

DENÚNCIAS E CONEXÕES  

O que parece uma série de complicações distintas pode ser uma massa de possíveis conexões. Seriam peças do mesmo jogo de xadrez. Há situações concretas, inquestionáveis, mas também algumas ilhotas de interesses específicos e desgarradas no arquipélago de investigação.  Descobrir a natureza do Caso Saul Klein poderá levar as investigações a inimaginável plataforma de verdades secretas.  

A ordem do Caso Saul Klein é que tudo se torne espetaculoso desenlace policial, regado de moralidade cínica no campo comportamental, recheado de vantagens financeiras de quem esqueceu que o tempo passa e, para completar, um riquíssimo elevador de ascensão institucional.   

O ponto em comum desta série é tornar a denúncia do Ministério Público Estadual um bloco resistente ou frágil ao contraditório policial e judicial. Exatamente o que a Grande Mídia sonega.  

Esta série de análises sem data para terminar pretende definir premissas com base em documentos, informações e evidências incontornáveis, mas não fugirá da possibilidade de tangenciar algumas questões que estariam no horizonte de investigações.  

ASSASSINATO SOCIAL   

Recorro à expressão “assassinato social” desde as primeiras chamadas que preparei nas redes sociais à leitura desta série. Não me parece identificação mais apropriada ao se tratar de caso que envolva relações entre homens e mulheres em conflito público.  

Optei por “assassinato social” à “assassinato de reputação”, título de livro relatado pelo ex-delegado Romeu Ruma Júnior numa coleção de casos famosos. “Assassinato de reputações” explorou o Caso Celso Daniel. Tratei durante anos da morte do então prefeito de Santo André. Celso Daniel seria um dos cinco homens mais fortes do presidente Lula da Silva, eleito oito meses depois à Presidência.   

Como fiquei traumatizado com a narrativa da Grande Mídia repleta de imprecisões, não repetiria o título quando me referir ao Caso Saul Klein. É “assassinato social” com variantes, vejam só, de “realismo social”, nas redes disponíveis na Internet.  

ACABOU A FARRA  

O que vem a ser assassinato social? Afora a possibilidade de a denúncia do Ministério Público consagrar-se como verdades acumuladas, a precipitação é clamorosa ao atribuir a Saul Klein protagonismo criminoso.  

A denúncia apressada do MPE não pressupõe que a proclamação de um assaltante sexual tenha robustez de provas. Ao contrário disso: quando tudo se estruturou no terreno movediço de duas mulheres enfurecidas com o fim de uma longa jornada de benesses financeiras para manterem a coleção de mulheres que divertiam Saul Klein, o que resta constar é que o modesto tabuleiro denunciatório abriga inquietações à luz de evidências e provas em contrário.   

Tomam-se contrariedades profissionais (selecionar mulheres conforme prescrição do freguês é a atividade profissional das duas mulheres que estão no centro das ações, embora uma delas nem apareça na denúncia) por fatos que estão longe de se comprovarem no inquérito ministerial.  

LIBERDADE À VERDADE  

O assassinato social é um enquadramento jornalístico adequado. O estilhaçamento da reputação de Saul Klein é resultado da retirada do lacre de confidencialidade do processo. O vazamento à imprensa, a começar pela Folha de S. Paulo, é um dos aspectos que integraram a rede de informações a serem apuradas.  

A liberdade de imprensa é pressuposto a ser guardado a sete chaves contra o autoritarismo, mas não pode ser utilizada como correia de transmissão de informações alquebradas, de endereçamento acusatório associado a protecionismo escandaloso. 

O inquérito do Caso Saul Klein está protegido pelo segredo de Justiça. Saul Klein foi assassinado socialmente porque o segredo de Justiça foi violado e, mais que isso, manipulado pela Grande Mídia. Teremos um capítulo ou mais para tratar disso. Também teremos protagonismos que vão muito além de Saul Klein e que a Grande Mídia esconde. Segredo de Justiça com direcionamento deliberado à condenação é espécie de arma clandestina a serviço de matadores profissionais.  

 

Daniel Alves é absolvido

de condenação por

estupro na Espanha 

A Justiça da Espanha absolveu o ex-jogador Daniel Alves da acusação de estupro nesta sexta-feira (28). Na sentença, a que o g1 teve acesso, o Tribunal Superior da Catalunha decidiu de forma unânime anular a condenação de Alves. O brasileiro havia sido sentenciado por um tribunal de primeira instância a 4 anos e 6 meses de prisão por ter estuprado uma jovem em uma discoteca em Barcelona, na Espanha.

Nesta sexta, quatro juízes da seção de recursos do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha concluíram que o depoimento da jovem que acusava o ex-jogador é insuficiente para sustentar a condenação.

Com isso, Alves fica automaticamente absolvido. A defesa da jovem informou que irá recorrer. Assim, o ex-jogador, que foi preso em janeiro de 2023, ficou mais de um ano atrás das grades aguardando julgamento, foi condenado a 4 anos e 6 meses e pagou 1 milhão de euros por liberdade provisória, fica totalmente livre e sem qualquer acusação na Justiça espanhola.

O brasileiro já estava em liberdade provisória desde março do ano passado, quando a Justiça catalã aceitou um recurso da defesa do ex-jogador. Os juízes, no entanto, analisavam outro recurso apresentado pela Promotoria de Barcelona que pedia aumento de pena para Alves.

Na sentença desta sexta-feira, os juízes afirmam entender que houve "imprecisões" e "déficits" na decisão anterior sobre o caso. Eles dizem não duvidar do teor em si da fala da vítima, mas julgaram que a primeira instância deixou "lacunas e imprecisões" ao não esgotar recursos para comprovar a versão da acusação.

Entre as lacunas existentes no caso, de acordo com a sentença, estão:

 A decisão da primeira instância aceitou a declaração da vítima sobre a "penetração vaginal não consentida" sem contrastá-la com outras provas, como impressões digitais e evidências de DNA biológico;

 Havia trechos do relato da vítima (não estão especificados na sentença) que poderiam ter sido checados com gravações do sistema interno de câmeras da discoteca, segundo alegou a defesa de Alves;

 A sentença da primeira instância confiou "de forma subjetiva" na declaração da denunciante;

 A vítima era "uma testemunha não confiável" porque várias declarações suas não foram verificadas.

 Não é possível concluir, segundo a sentença desta sexta, que os padrões da presunção de inocência estabelecidos por uma diretriz da União Europeia tenham sido atendidos. 

Os juízes disseram também concordar com o argumento apresentado pelos advogados de Alves de que houve "falta de confiabilidade do depoimento" da vítima durante o julgamento do caso, em fevereiro do ano passado — a vítima apresentou o mesmo depoimento desde o início da denúncia, a de que foi estuprada por Alves.

Já o brasileiro, que chegou a dizer que nem sequer conhecia a jovem, mudou de versão três vezes ao longo do processo. Os juízes apontaram ainda que a decisão anterior, de um tribunal de primeira instância de Barcelona, contém "uma série de lacunas, imprecisões, inconsistências e contradições quanto aos fatos" ao longo de sua fundamentação.

A decisão de hoje, diz a sentença, não significa que o tribunal esteja afirmando que a versão de Alves — de que não houve estupro e que ele teve uma relação sexual consentida com a vítima — seja a correta. Mas os juízes argumentam que, pelas inconsistências, também não podem aceitar a hipótese da acusação como provada.

A vítima, uma jovem espanhola que estava na mesma discoteca de Daniel Alves em 30 de dezembro de 2022, afirmou que foi estuprada por Alves dentro de um banheiro da área VIP do local. Exames de corpo de delito comprovaram a existência de sêmen na vagina da jovem, e funcionários da boate corroboraram a versão da vítima, argumentando que ela saiu do banheiro depois de Alves chorando e muito abalada.

O ex-jogador brasileiro confessou, depois de outras duas versões diferentes, que teve relação sexual com penetração com a vítima, mas alegou que houve consentimento da parte dela. Também por unanimidade, os juízes negaram um recurso da Promotoria de Barcelona apresentado após Alves deixar prisão. Os promotores pediam que o ex-jogador voltasse a ser preso e que a pena, de 4 anos e 6 meses sem fiança, aumentasse para 9 anos sem fiança.

Já os advogados da vítima, desde o início do caso, pediam 12 anos de prisão sem fiança. A defesa da jovem disse que vai recorrer.

"O tribunal, assim, negou provimento aos recursos do Ministério Público — que requereu a anulação parcial da pena e, subsidiariamente, a majoração da pena para 9 anos — e da acusação particular — que requereu a majoração da pena para 12 anos — e absolveu os acusados, revogando as medidas cautelares impostas e declarando ex officio as custas processuais".

A advogada de Alves disse estar "muito feliz" com a sentença, em entrevista à rádio espanhola RAC1. "Estamos muito felizes. Agora a justiça foi feita e mostrou que Alves é inocente", afirmou.

Daniel Alves, que foi preso preventivamente em janeiro de 2023, estava em liberdade provisória desde março do ano passado, quando a Justiça aceitou o recurso de sua defesa e estabeleceu uma fiança de 1 milhão de euros para que o jogador deixasse a prisão.  Sua defesa pagou a taxa, e ele está solto desde então.

A denúncia contra Daniel Alves veio à tona em janeiro de 2023, quando a Polícia de Barcelona afirmou que estava apurando uma queixa por "importunação sexual" contra o brasileiro. Alves negou e, em entrevista a uma TV espanhola, disse que nem sequer conhecia a jovem que fazia acusação. O jogador afirmou que de fato estava no discoteca em questão na noite da denúncia, em 30 de dezembro de 2022 — Daniel Alves jogou pelo Barcelona e tem uma residência na cidade com sua ex-esposa, a modelo espanhola Joana Sanz. Mas negou qualquer contato com a denunciante. Ele mudaria de versão três vezes depois disso.

Dias depois, a polícia catalã prendeu Alves em flagrante quando ele prestava depoimento sobre o caso, alegando que ele se contradisse. A Justiça decidiu então mantê-lo em prisão preventiva enquanto analisava o caso, apontando risco de fuga.

A Promotoria apresentou uma denúncia por agressão sexual — tipificação do Código Penal espanhol na qual está incluído o crime de estupro —, a Justiça acatou e decidiu então tornar Alves réu.

O julgamento do caso ocorreu em fevereiro do ano passado e durou três dias. Na sessão, Alves chorou e negou a agressão sexual, mas, para o tribunal que julgou o caso, ficou comprovado que a vítima não consentiu e que existiram elementos, além do testemunho da denunciante, para considerar provada a violação.

Desde o início do processo, Daniel Alves apresentou quatro versões sobre o que aconteceu na boate Sutton. A última foi no julgamento, quando alegou que estava completamente embriagado. Veja abaixo os diferentes relatos que ele já deu sobre o caso.

 No início de janeiro de 2023, em um vídeo enviado ao canal espanhol Antena 3 depois que o caso veio a público, o jogador negou ter ocorrido relação sexual e disse que sequer conhecia a denunciante. "Nunca vi essa senhora na vida", afirmou.

 Dias depois, em um primeiro depoimento à polícia, Daniel Alves declarou ter entrado no banheiro junto com a espanhola, mas negou ter havido qualquer relação entre os dois.

 Em 20 de janeiro, convocado a um segundo depoimento em uma delegacia de Barcelona, quando foi preso em flagrante, o jogador Alves alegou que a jovem praticou sexo oral nele, porém de forma consensual. O atleta mudou a versão ao ser confrontado pela polícia com imagens da boate.

 Em 17 de abril de 2023, já preso, Daniel Alves declarou à juíza responsável pelo caso que manteve relações sexuais consensuais com penetração (àquela altura, exames periciais haviam encontrado sêmen do jogador na espanhola). O brasileiro, que era casado com modelo espanhola Joanna Sanz, argumentou ter mentido para ocultar uma relação extraconjugal.

 No dia 7 de janeiro de 2024, durante seu julgamento, ele foi interrogado pela própria advogada. Nesse depoimento, ele chorou e afirmou que bebeu excessivamente naquela noite.



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