Regionalidade

O QUE TITE SENTE COMO
FILHO DE SEPARATISTA?

DANIEL LIMA - 01/04/2025

Esta é uma das 10 questões que enviarei ao prefeito de São Caetano, cidade que está de volta ao Clube dos Prefeitos. Não vejam maldade no que é apenas obrigação profissional, derivada de responsabilidade social. Fosse este jornalista o prefeito Tite Campanella, não me sentiria ofendido com a pergunta. E a responderia em pestanejar. Quem enxergar fuxico no que expresso na manchetíssima de hoje é doente da cabeça por natureza e safadeza.

A ideia de formular 10 questões centrais e eventuais respectivas variáveis, dirigidas ao prefeito Tite Campanella, brotou depois da frustração de ler a entrevista de ontem de página inteira no Diário do Grande ABC. Embora a manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página, um neologismo que criei já faz tempo), remetesse o trabalho jornalístico ao Clube dos Prefeitos, também conhecido como Consórcio Intermunicipal, o que tivemos de fato, na página interna, não passou de um sopro.

Me senti como um turista chamado a curtir um festival de abacaxi e dá de cara com apenas uma banquinha da fruta, enquanto as demais exibiam todos os tipos de goiabas.

Em termos de caracteres, ou seja, de soma de todas as letras do material, provavelmente a entrevista do Diário do Grande ABC com Tite Campanella não chegou a 5% do total. Até o fim dessa análise vou tentar quantificar o espaço dedicado ao Clube dos Prefeitos.

CARRO-CHEFE

A questão familiar embutida na decisão de retorno de São Caetano ao Clube dos Prefeitos foi desdenhada por toda a mídia regional porque toda a mídia regional assim entendeu que devesse ser.

Para este jornalista, um filho de liderança separatista de metade do século passado que reintroduz São Caetano no seio da regionalidade pretendida, em forma de Clube dos Prefeitos, é uma baita notícia com desdobramentos que vão além do fato em si.

Daí, é evidente que ao decidir formular 10 questões a Tite Campanella, a primeira seria mesmo essa. É o carro-chefe indispensável. Quem conhece a cultura de São Caetano (e detalhei essa cultura no livro Complexo de Gata Borralheira, lançado em 2002, sob o trauma do assassinato de Celso Daniel) sabe o quanto aquela população de 160 mil habitantes é diferente e se sente diferente do restante da região. Fica a juízo de cada um dos quase três milhões de habitantes traduzir essa constatação como ponto positivo ou negativo à regionalidade como um todo e ao municipalismo de maneira geral. Quem mora em São Caetano tem motivos de sobra para não trocar São Caetano por qualquer endereço da região. Ou não? 

Para encurtar a história, seguem agora as questões que formulei em não mais que 20 minutos de dedilhar no teclado de meu computador sempre disposto a acompanhar meu ritmo, que não é malemolente. Muito pelo contrário. Vamos lá, então? 

PERGUNTA – O senhor recolocou São Caetano no Clube dos Prefeitos. Demorou praticamente três meses para fazê-lo, período no qual sofreu pressão dos demais prefeitos e principalmente da mídia que despertou de sono profundo de baixa regionalidade. O passado de separatismo comandado em São Caetano, entre outros, pelo seu pai, Anacleto Campanella, foi levado em consideração diante dessa suposta indecisão?

PERGUNTA – Nessa fase de definição que demorou um bocado, o senhor disse à mídia que poderia retornar ao Clube dos Prefeitos sobretudo se um planejamento estratégico fosse colocado à mesa como segurança de trabalho efetivo. O senhor não disse nesses termos, mas esses termos traduzem seu pensamento explicitado à mídia. Como se explica que até agora o Clube dos Prefeitos não apresentou qualquer projeto de reestruturação organizacional e o senhor decidiu voltar?

PERGUNTA – O prefeito que o antecedeu como representante de São Caetano no Clube dos Prefeitos decidiu abandonar a instituição porque, entre outros pontos, exacerbou-se uma disputa político-partidária que colocava o grupamento em dois polos distintos. O senhor disse na entrevista ao Diário do Grande ABC de ontem que está feliz com as companhias dos demais prefeitos, supostamente despidos de egos e vaidades. O senhor acha esses elementos ambientais, por assim dizer, suficientes para não entrar num barco furado de muito marketing e pouca produtividade, como praticamente todas as turmas anteriores, anos a fio, exceto no período sob o controle de Celso Daniel?

PERGUNTA – Como o senhor observa o fato constrangedor de anúncio de adesão formal da cidade de São Paulo ao Clube dos Prefeitos quando de fato e para valer tudo não passou de frustração? Afinal, o prefeito Ricardo Nunes prestou diplomatas explicações, mas deixou nas entrelinhas que não participaria oficialmente da entidade. Houve precipitação? Houve excesso de confiança? Houve ranço de partidarismo?

PERGUNTA – Sempre afirmamos que São Caetano é o único municipalismo que deu certo no antigo território do Grande ABC, partido e repartido em sete porções distintas, quando não antagônicas. Os dados econômicos e sociais de São Caetano são irrefutáveis. O senhor acha que a turma dos separatistas do século passado foi mais competente que as demais no processo divisionista ou tudo isso é obra do acaso?

PERGUNTA –  O senhor fez um exercício de ponderação levando-se em conta também, além da questão de ancestralidade e territorialidade, as perdas e os ganhos ao recolocar São Caetano no Clube dos Prefeitos? São Caetano ganharia de qualquer jeito, participando ou não do colegiado, ou há determinados projetos que exigem costura do ajuntamento supostamente estratégico?

PERGUNTA – Recentemente o prefeito José Auricchio Júnior disse com todas as letras e num sentido que estamos resumindo que o Clube dos Prefeitos é um caos em matéria de organização. O senhor não levou isso em consideração ao resolver ceder aos desejos expostos pelos demais prefeitos?

PERGUNTA – Não existe em qualquer mídia regional quem colecione tantas análises, propostas e críticas como CapitalSocial. São centenas de matérias relativas à atuação histórica do Clube dos Prefeitos. Tudo possivelmente que deveria ser aplicado já foi sugerido. Por exemplo? O que o senhor acha da contratação de uma consultoria especializada em competitividade econômica para definir os passos rumo ao futuro do Grande ABC, no caso com o suporte de gente local que conheça o riscado econômico. Raros, por sinal.

PERGUNTA – O senhor é um político experiente, mas não tem história alguma relacionada à regionalidade. Aliás, muito diferente disso. O senhor acredita que ao longo dos anos houve espécie de curto circuito avaliativo que o impedia de se integrar e participar efetivamente de qualquer estudo, programa, iniciativa, vinculados aos sete municípios, porque a origem política da família Campanella está vinculada ao municipalismo redentor?

PERGUNTA – Como o senhor observa um movimento mais que escancarado a olhos atentos de monopólio de poder dos atuais ocupantes dos paçosmunicipais por agentes deliberadamente em comunhão, independentemente de filiações partidárias? O senhor teria decidido aderir ao Clube dos Prefeitos porque haveria possíveis retaliações à negativa?   

O TODO DO DIÁRIO

Para completar: o total de caracteres da entrevista publicada no Diário do Grande ABC (considerando exclusivamente as perguntas e as respostas, registrou 9.437 caracteres -- e desse total, apenas 991 se referiram ao Clube dos Prefeitos. Reproduzo na sequência esse material. 

DIÁRIO -- O Sr. conseguiu aprovar a volta de São Caetano ao Consórcio. Quais motivos o levaram a fazer essa proposta à Câmara?

TITE -- O principal deles é o novo grupo de prefeitos. Um grupo sem nenhuma vaidade, sem nenhum projeto pessoal, sem nada que ofusque a missão original do Consórcio.

DIÁRIO -- Qual a sua expectativa com o Consórcio?

Ter paciência para ver o que vai acontecer nos próximos meses. A entrada de São Paulo, do prefeito Ricardo Nunes, é interessante. Poderemos e deveremos avançar pautas interessantes para toda a região. Por exemplo, o Smart Sampa. Não dá para São Paulo ter e as cidades da Região Metropolitana não terem. Temos de compartilhar os bancos de dados para, a partir dos reconhecimentos faciais, fazermos buscas, detenções. Não dá para ter em São Paulo e não em São Caetano, Santo André, Diadema porque, quando se coloca um sistema de segurança que funciona muito bem, você acaba espantando esse pessoal para as outras cidades. Existem também outras coisas que podemos fazer em conjunto.



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