Na edição de 13 de novembro de 2024 fiz uma pergunta sobre o futuro de três prefeitos impedidos de continuar no cargo porque se esgotara o tempo regulamentar de dois mandatos sequenciais. O que seria de Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio Júnior? Passados três meses, quem está na dianteira política é Orlando Morando. Auricchio prometera dar tempo ao tempo. E Paulinho Serra, frustrado entre os tucanos que rareiam, tem-se ocupado de coisas pessoais, como professor no Ensino Superior e prestes a virar aluno de 30 dias numa universidade famosa dos Estados Unidos.
Em política tudo é possível. O aparentemente duradouro pode confirmar-se duradouro, o duradouro pode tornar-se efêmero e o efêmero pode tornar-se duradouro. No caso e ao que parece, Orlando Morando estaria com o destino traçado à consolidação da carreira iniciada como vereador em São Bernardo e três vezes deputado estadual. Seria um longevo-longevo de fato. Ou o duradouro-duradouro, como queiram.
Paulinho Serra e José Auricchio estão indefinidos. O primeiro mais que o segundo, que não escondeu pouco ambição. Paulinho Serra sonha alto. O problema é que lhe deram de presente a presidência estadual do PSDB. Um presente de grego, como se vê. Talvez não só de grego. Os últimos moicanos estelares do PSDB estão feridos de morte. Viraram peças de negociações com enredo de rebaixamento. Imaginem, então, o desconhecido Paulinho Serra.
GATABORRALHEIRISMO
Se tivesse que apostar num dos três ex-prefeitos com vistas ao futuro, diria que a nova arrancada de Orlando Morando é espetacular. Virou o principal agente público do Grande ABC sem ocupar qualquer cargo no Grande ABC. Orlando Morando é simplesmente (como enfatizou o jornal Valor Econômico na edição de ontem) o mais importante secretário municipal de São Paulo. Quem acha que é pouca coisa não entende do riscado de poder.
A ascensão de Orlando Morando exorciza o Complexo de Gata Borralheira frente à cinderelesca Capital. Essa enfermidade foi dissecada em quase 200 páginas de um livro que escrevi há 23 anos. A verdade é que o gataborralheirismo do Grande ABC não arrefeceu, mas eis que aparece um político genuinamente local para romper os grilhões psicossociais.
O cargo de secretário de Segurança Pública já seria aporte rumo ao futuro. Com a nova configuração legal, embora controversa, que coroa os comandados de Orlando Morando como policiais municipais, não mais guardas municipais, -- além da visibilidade midiática que isso tem lhe proporcionado -- não é preciso esticar a conversa.
EXECUTIVO DINÂMICO
E se esticar a conversa o que teremos? Uma vitrine do tamanho de um bonde. A tecnologia adotada para tentar colocar o mínimo de ordem no galinheiro de governança criminal, o chamado Smart-Sampa, já seria suficiente. Orlando Morando está em toda a mídia paulistana dia sim e dia seguinte também. Os insumos de eficiência do big brother digital são um prato cheio à atenção.
Do jeito que a banda está tocando pelos lados de Orlando Morando é preciso reconhecer que de fato e para valer ele é o maestro de uma orquestra, sempre levando-se em conta o vetor midiático, que, gostem ou não, pesa na avaliação dos jurados, ou seja, junto aos consumidores de informação.
Tudo leva a crer que o prefeito Ricardo Nunes tem em Orlando Morando um companheiro para muito tempo de vida política. Embora não faltem intrigas nos palácios e nos barracos, porque ainda não se fabricou uma sociedade de paz e amor de verdade, sabe-se que o ex-prefeito de São Bernardo encontra em Ricardo Nunes forte admirador. Afinal, Orlando Morando desfila na Capital do Estado uma febril atividade executiva, como o fizera como prefeito e como deputado.
XERIFÃO METROPOLITANO
Possivelmente muitos dos concorrentes que pretendiam ocupar titularidade na Secretaria de Segurança Pública da cidade de São Paulo fariam do cargo o que é mais comum entre os mortais convencionais: tocariam o barco sem maiores preocupações com as ondas. Orlando Morando é inspirador e transformador como liderança acessória de Ricardo Nunes.
Enquanto na região a banda do novo comandante da Prefeitura de São Bernardo toca músicas caseiras fervilhantes em populismos, muito aquém de medidas reformistas na área econômica, Orlando Morando constrói notas inventivas. Entre os atuais agentes públicos da região , Morando é o que mais se dá bem com as câmeras e os microfones, a léguas de distância dos demais.
O xerifão metropolitano reúne articulação cognitiva, tom distante de cacoetes dos velhos políticos e substância informativa. Orlando Morando só poderia mesmo amealhar pontos de empatia popular. Como se fosse preciso, cá entre nós, porque a temática da qual dá conta e por si só um fio condutor a audiências explosivas.
LADO DEFINIDO
A entrevista de Orlando Morando ao jornal Valor Econômico (que reproduzo em seguida) mostra com precisão a personalidade combativa do xerifão metropolitano. Orlando Morando não é um político sobre o qual quem quer que seja fique em dúvida sobre o lado que ocupa. Orlando Morando é incisivo: tem partido, tem posição, tem opinião e tem compromisso com o eleitorado que o conhece bem.
Tudo isso não quer dizer necessariamente que seja um político primoroso, porque não há político primoroso nestes tempos convulsivos. O principal mesmo é que é um político que entrega o que construiu como perfil conservador.
Tem tanta personalidade política o ex-prefeito de São Bernardo que ao longo dos anos deste século, caso fosse preciso apontar um nome com identidade ideológica definida e expressa, certamente seria ele. Provavelmente o único entre os conservadores.
Os demais sempre ficaram em cima do muro ou se fingiram conservadores. Caso, por exemplo, de Paulinho Serra, sempre debaixo de cobertores multicoloridos que incluem o PT. Do outro lado do espectro político-partidário, os petistas jamais fugiram da raia de se assumirem como sempre foram: socialistas de cabo a rabo, com direito a distanciamento de outros espectros ideológicos. Menos , por exemplo, no caso de um Celso Daniel convicto da doutrina socialista, mas nem por isso alguém que lacrasse a porta do diálogo.
PRESSÃO TOTAL
Poucas vezes na história da política regional um prefeito foi tão duramente combatido como Orlando Morando. Ao deixar o Clube dos Prefeitos juntamente com José Auricchio, em fevereiro de 2023, Morando comprou uma briga encardida com o grupo que se consolida cada vez mais como candidatíssimo a exercer imperialismo sem precedentes.
Essa trajetória de incompatibilidades ditadas por interesses específicos, não por conta da regionalidade, traçou o destino de Orlando Morando. A derrota da candidata que escolheu para a sucessão em São Bernardo parecia tê-lo nocauteado. Mas eis que, surpreendentemente para muita gente, foi elevado à condição de estrela da Segurança Pública na Região Metropolitana mais importante da América do Sul.
Sim, é essa de fato a hierarquia que ostenta, porque não se passa pela porteira de São Paulo, em qualquer um dos muitos acessos geográficos, sem passar necessariamente por São Paulo. Sobretudo na área criminal, de metropolização compulsória.
ENCONTRO ESCLARECEDOR
Não tenho ideia de como foi a reação dos prefeitos municipais da região que, na condição de prefeitos regionais, naquele encontro no Clube dos Prefeitos com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, diante da declaração do visitante quanto à importância de incorporar o programa Smart-Sampa no convênio informal dos sete municípios.
Ricardo Nunes teve a delicadeza de não nominar o titular da Secretaria de Segurança da Capital, até por que desnecessário. O fantasma de Orlando Morando passou pelos olhos atônitos de gente que esperava ver o ex-prefeito numa condição político-eleitoral inconfortável.
O que quero dizer com isso com toda a franqueza, liberdade e independência é o seguinte: enquanto a banda de Orlando Morando estiver em ação e com destaque no transatlântico politico chamado Capital do Estado, os aliados e os adversários postados na região vão precisar compreender e decifrar os espaços que se abrirão e se fecharão na corrida sempre frenética por poder político.
VOLTA POR CIMA
A perda da Prefeitura de São Bernardo parece, portanto, um tropeço superado para aquele que, como analisei rigorosamente no último ano de mandato, fez uma revolução na infraestrutura viária e logística de uma cidade que até então cristalizava-se como desesperança em competividade econômica. Algo, a bem dos fatos, ainda latente entre outras razões porque há pelo menos 300 quesitos na planilhas dos especialistas em convencer investidores a aplicar recursos em novas plantas industriais.
Como escrevi um dia, nos últimos 30 anos de vida regional só conheci dois administradores públicos que injetaram nas carcomidas estruturas territoriais do Grande ABC porções providenciais de reformismo: Celso Daniel no campo institucional e e Orlando Morando em infraestrutura física. Agora, fiquem com a reportagem de ontem do jornal Valor Econômico:
Nunes faz da segurança pública
principal marca de sua gestão e
alimenta rumores sobre 2026
Em uma das principais ruas do centro de São Paulo, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), exibe uma viatura estampada com “Polícia Municipal”, novo nome da Guarda Civil Metropolitana (GCM), e comemora a prisão em flagrante de 2.055 pessoas até segunda-feira (17) por agentes municipais. Nunes destaca ainda a detenção de 854 foragidos da Justiça, registrada no “prisômetro”. O totem digital, com três metros de altura, atualiza em tempo real o número de prisões em flagrante, foragidos capturados e de pessoas desaparecidas que foram encontradas com o auxílio das 25 mil câmeras de reconhecimento facial espalhadas pela cidade. “Aqui, bandido não tem vez”, diz o prefeito.
Reeleito com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ricardo Nunes fez da segurança pública a principal marca do início de sua segunda gestão. A escolha dessa bandeira tem alimentado os rumores de que o prefeito estaria se preparando para disputar o governo paulista em 2026, caso Tarcísio desista de tentar a reeleição no Estado para concorrer à Presidência.
A falta de segurança em São Paulo foi o principal problema apontado pela população na eleição de 2024 e continua no topo da lista das preocupações dos moradores da capital - e do Estado -, segundo as pesquisas de opinião.
Nunes colocou entre as prioridades do governo a ampliação para 30 mil câmeras com tecnologia de reconhecimento facial até o fim deste ano, no programa “Smart Sampa”, e a transformação da GCM em Polícia Municipal. As câmeras do “Smart Sampa” têm sido exibidas em propagandas nas redes sociais do prefeito, em horário nobre na televisão e até nos vagões do metrô. O “prisômetro” é para “passar a clara mensagem de que São Paulo tem uma política efetiva de segurança”, diz a gestão Nunes.
Além de mudar o nome da GCM, o prefeito quer dar mais poderes aos agentes, em projeto de lei que deve ser enviado nos próximos dias aos vereadores. Essas alterações têm sido questionadas pelo Ministério Público e por parte da Polícia Militar. Entre as críticas, estão a eventual sobreposição de funções com as da PM e a afronta às constituições federal e estadual.
Com apoio de Nunes, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou na quinta-feira (13) um projeto da vereadora Edir Sales (PSD), com a coautoria de 29 vereadores, que altera o nome da corporação para Polícia Municipal. No entanto, no dia seguinte o Ministério Público entrou com uma ação para impedir a mudança. Na terça-feira (18), a Justiça de São Paulo decidiu, em liminar, barrar a mudança, e a Câmara Municipal recorrerá.
A mudança na GCM foi feita depois que o Supremo Tribunal Federal definiu, há um mês, que as guardas municipais podem fazer policiamento urbano ostensivo, desde que não se sobreponham às polícias Civil e Militar.
O secretário municipal de Segurança, Orlando Morando, rebate as críticas e diz que a resistência se deve ao “conservadorismo” de parte da PM, de manter-se como “a única polícia”. “A GCM já cumpre papel de polícia. Não faz sentido não ser chamada por aquilo que já desempenha”, afirma. “O Brasil já tem Polícia Legislativa, Penal, Ferroviária. Por que não ter a Polícia Municipal? Não tem nenhum motivo”, diz. “O que as pessoas mais querem? É polícia na rua.”
Morando diz que, na prática, os policiais municipais terão “atribuições de patrulhamento muito semelhantes” às da PM. Os agentes municipais já prendem criminosos como traficantes e poderão “abordar um cidadão na rua e fazer revista” e ocupar imóvel particular em ação de flagrante. O secretário aponta uma diferença na atuação das duas polícias: “O policial municipal não pode cumprir reintegração de posse, porque o Judiciário demanda a Polícia Militar, que é estadual. Comparado com a PM, é a principal diferença”.
O secretário diz que a corporação, com 7,5 mil agentes, é maior do que a PM de dez Estados, e deve chegar a 9,5 mil até 2028. Todos portam pistola automática 9 mm e parte dos agentes tem fuzil calibre 12. No projeto que a prefeitura enviará ao Legislativo, está previsto que a formação dos novos agentes tenha um número maior de horas de treino com disparo de armas.
SECRETÁRIO ‘LINHA DURA’
Morando pretende também fazer uma “cruzada” contra os “pancadões” (bailes de rua na periferia), para “estabelecer a ordem”. “É um distúrbio social”, diz. Outra prioridade é aumentar o número de escolas com guardas municipais acompanhando os alunos não só na entrada e saída, mas no período letivo. Foram escalados agentes para 20 escolas e até o fim do ano deve ser ampliado para 800. A presença dos agentes armados nas escolas é questionada por especialistas e vereadores, mas Morando diz ter respaldo da comunidade escolar e dos pais.
No comando da secretaria desde o começo do ano, Morando foi prefeito de São Bernardo do Campo (SP) por dois mandatos, até 2024, e tem ganhado cada vez mais espaço e projeção na Prefeitura de São Paulo. A presença do secretário em agendas públicas de Nunes é frequente, e Morando não deixa de registrar que é defensor de uma “linha dura” na segurança.
Em São Bernardo, nomeou como secretário de segurança Carlos Alberto dos Santos, ex-tenente-coronel da Rota, que atuou no Massacre do Carandiru, e foi sentenciado por homicídio qualificado por parte das 111 mortes dos detentos. “Ele não tinha condenação em última instância e foi um brilhante profissional na secretaria”, diz Morando sobre o secretário, que ficou em seus dois mandatos. “Ele fez a legítima defesa quando invadiu o centro de detenção. Os episódios que retratam o fato só relatam a visão do preso e não da polícia. É um profundo erro”, afirma. “O que eles [PMs] receberam quando invadiram o Carandiru ninguém nunca quis relatar. Acha que os presos deram flores para a polícia? Não.”
Em São Paulo, Morando já cantou com GCMs, ao lado do prefeito, para jogar “gás de pimenta na cara do vagabundo”. Em eventos públicos, defendeu que agentes de segurança matem os criminosos em situação de conflito e que os GCMs não devem se intimidar com a lei. “Todos nós não podemos estar acima da lei, mas também não podemos estar abaixo da lei. E tenho a clareza que se [houver] um confronto com um criminoso, que chore a mãe do criminoso e nenhum parente de vocês”, afirmou.
O secretário diz que já costumava falar isso quando era prefeito e nega que seja “carta branca” a excessos. “Fiz a defesa intransigente de quem está trabalhando em detrimento de quem saiu para roubar”, diz. “Nunca disse que bandido bom é bandido no cemitério, e nunca vou dizer. Minha conduta de vida não é essa. Mas quero que um policial municipal saia para trabalhar e volte para a sua família”, afirma. “Quem defende segurança pública defende a família, o cidadão de bem, a sociedade.”
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24/03/2025 IMPERIALISTAS QUEREM DOMINAR SÃO BERNARDO