Política

TITE CAMPANELLA DECIDE
ENTREGAR-SE AO IMPÉRIO

DANIEL LIMA - 27/03/2025

O prefeito de São Caetano não suportou a pressão. A contragosto espiritual, mas com pragmático paladar político, Tite Campanella exorcizou o legado municipalista do pai. Tite estaria supostamente corrigindo um equívoco de Anacleto Campanella? Tite é um oportunista? Anacleto foi um libertador? No fundo eles são iguais, mesmo separados no tempo.

A política fala mais alto sempre para os políticos. O separatismo municipalista no passado e a prometida integração regional no presente são metades da subordinação ao poder. Político sem obsessão pelo poder é avis rara. Nem pai nem filho se enquadram nessa categoria.

A volta de São Caetano ao Clube dos Prefeitos era mais que esperada. A fanfarra de falsos regionalistas não parou de tocar aquela musiquinha enfadonha de oportunismo antes mesmo de Tite tomar posse da cidade de melhor qualidade de vida da metrópole de 22 milhões de habitantes.

FRACASSO CONTINUADO

O retorno é festejado por falsos propagandistas do regionalismo. Eles confundem quantidade com qualidade. O Clube dos Prefeitos está nas paradas de fracasso há praticamente 35 anos. Nesse período, foram raras as defecções de um e outro prefeito. Nem por isso a integralidade numérica fez alguma diferença. A rotina histórica do Clube dos Prefeitos é uma sucessão de prefeitos dos prefeitos em fracasso com alguns intervalos de prefeito dos prefeitos comprometido com a causa.

O Clube dos Prefeitos fracassou tanto, mas tanto, que aqui e ali tem gente incompetente garimpando um ou outro sucesso numa pescaria triunfalista que tenta atribuir à instituição algum mérito em alguma suposta conquista. Tratarei disso em outra oportunidade. Não ficará peça sobre peça.

Não é porque fez os vereadores de São Caetano abandonarem o discurso pró-separatismo alcançado no século passado, e tampouco o que sempre disse sobre o Clube dos Prefeitos, que resolverá o problema de consciência espiritual, por dizer assim, do prefeito Tite Campanella.

SEPARATISMO E INTEGRAÇÃO

O pai libertador de São Caetano do território de Santo André, numa atuação predominantemente de cunho político, como todos os emancipacionistas dos demais pedaços retirados de Santo André e de São Bernardo, possivelmente reprovaria a decisão do filho. O Espírito Santo também. E é em nome do pai, do filho e do Espirito Santo que essa abordagem precisa ser feita.

Nada é mais emblemático, mais contundentemente irrebatível, nada é mais esclarecedor, do que a lógica de causalidade da decepção continuada do Grande ABC como território socioeconômico do que o retorno de São Caetano ao Clube dos Prefeitos. Principalmente porque o faz pelos braços, pernas e cabeça de Tite Campanella, da família Campanella.

Um separatismo do passado transformado em suposta integração no presente. Querem confissão maior de que os acontecimentos do século passado foram um estorvo na vida regional?

É claro que o dilema do prefeito de São Caetano não o abandonará durante todo o tempo, como prefeito atual e ex-prefeito no futuro que sempre chega. O filho de um dos mais destacados separatistas se penitencia publicamente. A tomada de decisão no passado foi um equívoco.

DILEMA PERSISTIRÁ

O dilema que perseguirá Tite Campanella muda apenas de configuração em relação ao dilema que o hostilizou até tomar a decisão que tomou. Se antes estava entre a cruz e a espada quanto ao bom senso de integrar ou não o Clube dos Prefeitos, agora está entre a espada e a cruz ante a ponderação de que se a medida teria consequências práticas que valeriam a pena.

Mais que isso: agora Tite Campanella, que tem aspirações políticas que vão além de apenas um mandato, deixa a cada dia evidente  hostilidade ao antecessor José Auricchio. O mesmo José Auricchio que o levou à vitória eleitoral. Agora Tite Campanella terá de enfrentar a turma de imperialistas de Santo André que está chegando a São Bernardo e quer tomar de assalto os demais municípios.

Será que Tite Campanella já tomou ciência, numa análise estratégica cuidadosa, que a aproximação de agora, fundamentada e consagrada no retorno ao Clube dos Prefeitos, não ganharia amanhã a forma de cadafalso, de armadilha, de cilada?.

Será que Tite não se apercebeu de que o Cavalo de Troia dos imperialistas que chegou a São Bernardo também o fará em São Caetano, com a diferença de que a parceria voluntária em São Bernardo poderá se tornar coercitiva em São Caetano?

INVASÃO DOS DERROTADOS

Por enquanto,  São Caetano tem poderes próprios locais para jogar o jogo da política municipal. A exceção se deu durante o período de quatro anos do prefeito Paulo Pinheiro, a partir de 2013, quando o PT avançou sobre o território e tutelou o candidato a quem deu suporte financeiro total. Fora isso, a política em São Caetano jamais se submeteu à invasão de fronteiras. Seria uma incoerência, quando não estupidez, libertar-se no passado para dobrar-se no presente aos supostos derrotados.

 O grupo de mandachuvas que fez de Santo André experimentação exitosa, e que segue avassaladora, há de desembarcar em São Caetano. A invasão dos bárbaros seria uma questão de tempo. Essa turma gulosa come pelas beiradas porque conta com suporte de gente graduada de cúpulas partidárias, entre outras. Uma turma que faz chover.

Querem um exemplo? Tente encontrar alguma coisa que possa chamar de força petista em Santo André. Os avermelhados foram liquidados eleitoralmente, mas dezenas o fizeram de caso pensado, juntando-se ao grupo de imperialistas. Integrando e dando as cartas num processo de coletivismo seletivo.

A invasão do PT começou com Paulinho Serra transformado em secretário de mobilidade (uma barbaridade de fracasso) durante o governo do prefeito petista Carlos Grana. Com o desastre dilmista, Paulinho Serra saltou do barco, levou petistas na garupa oportunista e ganhou a disputa em outubro de 2016. 

PACOTE QUASE COMPLETO

O projeto de revigoramento do Clube dos Prefeitos comete vários pecados capitais, entre os quais o de subestimar os mais atentos e, pior ainda, não se aparelhar de medidas dissuasivas. O projeto de controle dos cordéis políticos da região não se importa com a qualidade de vida da população.

Algumas ações pontuais, que estão na fila de expectativas e esperanças de resoluções há muitos anos, e projetos nem sempre compatíveis com orçamentos públicos estadual e federal, fazem dos alquimistas do Clube dos Prefeitos verdadeiros trapalhões que se acham espertos.

Eles deixam tão escancarada a porta de embromação que é impossível não perceber. Tite Campanella faz parte desse pacote de interesses muitas vezes descaradamente açodados que nem se dá conta da enrascada em que poderia estar metido.

Com tudo isso que se apresenta de mais relevante como elementos de análise da integridade numérica do Clube dos Prefeitos, seria impossível a  Tite Campanella submeter-se diariamente ao verdadeiro assédio moral dos demais participantes da instituição, além da mídia mais próxima dos eleitos em outubro do ano passado.

OUTRA REGIONALIDADE

As articulações são regionalizadas, algo que jamais o Clube dos Prefeitos alcançou, mas os interesses não passam por processo reformista. A ordem dada e cumprida está clara: o consorciamento de poderes paralelos em forma de poderes eleitos determinará o rumo dos privilégios chamados de conquistas regionais.

Trocando em miúdos, o que temos em termos de regionalidade emergente no Grande ABC desses dias é o espalhamento controlado dos poderes da turma que transformou a Prefeitura de Santo André num centro de poder na região.

São Caetano de José Auricchio e São Bernardo de Orlando Morando resistiram até que os mandatos se esgotaram. Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra já estão na gaveta de sedução. São Caetano pode ser incluído na lista em pouco tempo. Resta a Diadema petista que não perde a força partidária e resiste ao prefeito Taka Yamauchi,  também soldado das forças imperialistas.

Jamais na história do Grande ABC o regionalismo foi tão expressivamente forte. Pena que não tenha nada a ver com o regionalismo deflagrado por Celso Daniel, um petista ecumênico em busca de soluções para o Grande ABC daquele final de século passado. Nosso regionalismo, da forma que está exposto neste começo de temporada de  nova turma, veio para sacrificar o todo pelo restrito. O todo é a sociedade mal-informada e descuidada. O restrito é a turma festeira.

GUARDEM E CONFIRAM

Como em centenas de análises que fiz ao longo dos 35 anos desta revista digital, guardem esse texto, não descartem os anteriores, sigam consumindo os próximos. Em uma década os leitores vão perceber que não se está a ver fantasmas. O que temos mesmo e para valer são regionalistas da boca  para fora e todos os interesses possíveis um pouco abaixo da linha de cintura.

Dessa forma, Tite Campanella não parece o filho ingrato que a adesão ao Clube dos Prefeitos sugeriria. Ele está mesmo numa enrascada que ultrapassa a marca de penalidade máxima da política. O pai lhe deixou um legado comemoradíssimo pelos separatistas que fizeram de São Caetano a cidade mais avançada culturalmente do Grande ABC. E entendam cultura como um conjunto de relacionamentos sociais.

Ao valorizar o passe e esticar o quanto pode a decisão de São Caetano no Clube dos Prefeitos, Tite Campanella deixou um recado aos moradores da cidade. Seria algo como estou indo porque preciso ir, mas não tenham dúvida de que posso mudar de decisão mais adiante. Resta saber se o bilhete de retorno guardaria relação com os princípios de autonomia absoluta. Os imperialistas não são flores que se cheiram como exemplares de cidadania responsável e abrangente.



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