Vamos cumprir, mais uma vez, a autoimposição editorial de publicar sem qualquer expressão de juiz do valor uma nova Entrevista Especial desta temporada de votos na região. Desta vez, é Eduardo Leite, vereador de Santo André, ex-petista e hoje integrante do PSB do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, quem expõe ideias provocadas por questionamentos desta publicação.
Como o fizemos na primeira edição desta série, com o Coronel Edson Sardano, concorrente, como Eduardo Leite, à Prefeitura de Santo André, e em seguida com o regionalista Fausto Cestari, deixaremos para os leitores um tempo suficiente à digestão crítica deste trabalho.
Faremos o que chamamos de curadoria apenas na edição de sexta-feira, quem sabe de segunda-feira, quando, pressupostamente, os leitores já teriam avaliado a exposição do candidato.
CAPITAL SOCIAL – O senhor consta da lista de nove candidatos do Paço Municipal à sucessão do prefeito Paulinho Serra? O senhor concorda com essa disputa interna e, portanto, admitiria que, eventual candidatura independente poderia estar vinculada ao governismo atual ou, pelo contrário, demarcaria para valer sua autonomia política?
EDUARDO LEITE – Acredito que este é o meu momento. Embora mantenha um bom relacionamento com o prefeito Paulo Serra, sou pré-candidato ao Paço Municipal pelo PSB, partido que me concedeu total liberdade para desenvolver nosso projeto. Santo André vem de uma gestão bem avaliada, porém reconhecemos que ainda há muito a ser feito.
CAPITAL SOCIAL – Se o senhor fosse escolher uma política pública da Administração de Paulinho Serra, cuja citação não lhe causaria constrangimento na eventualidade de se tornar prefeito de Santo André no próximo ano, qual apontaria?
EDUARDO LEITE – O prefeito teve uma atuação positiva durante a pandemia, implementando medidas que ajudaram a cidade a enfrentar os desafios impostos por um vírus desconhecido. Naquela época, era crucial unir esforços em torno de um projeto que assegurasse o atendimento dos andreenses pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e eu estive presente, trabalhando ao lado de vários colegas para proteger nossa população. Hoje, Santo André compreendeu a importância do SUS, e o fortalecimento da Saúde pública é prioridade em nosso plano de governo.
CAPITAL SOCIAL – Que política pública do prefeito Paulinho Serra o senhor não adotaria de forma alguma em caso de se tornar o próximo prefeito?
EDUARDO LEITE – Eu teria optado por não conceder o Semasa à Sabesp. Entendo que essa autarquia era de extrema importância para o governo municipal, pois permitia uma abordagem centrada nos andreenses com um viés social, e não apenas orientada pelos interesses do mercado. Era necessário explorar outras alternativas para resolver as dificuldades financeiras e garantir a autossustentabilidade do órgão. Atualmente, além das contas mais elevadas para as famílias, o atendimento à população é insatisfatório, e o Poder Público municipal se vê com uma gestão reduzida e refém das agências reguladoras.
CAPITAL SOCIAL – O senhor concorda com o compartilhamento de poder da Prefeitura de Santo André que, durante sete anos de gestão do prefeito Paulinho Serra, praticamente eliminou focos expressivos de oposição?
EDUARDO LEITE – Diversos fatores contribuíram para a eleição de uma grande bancada de sustentação, representando mais de dois terços da Câmara. Sempre me posicionei a favor dos projetos que considerei fundamentais para o progresso de nossa cidade. No entanto, também mantive minha posição firme ao não apoiar aquilo que, em minha avaliação, não se mostrava coerente.
CAPITAL SOCIAL – Qual o conceito que o move como agente público quando se trata da ação estatal ante potenciais iniciativas de mudanças? A transferência do Semasa para a Sabesp, por exemplo, como foi observada pelo senhor?
EDUARDO LEITE – Não sou contra privatizações, contudo, acredito que é essencial estabelecer critérios que justifiquem tais decisões. No caso do Semasa, reconheço a existência de uma dívida significativa. No entanto, creio que deveríamos ter buscado uma negociação mais vantajosa para nossa cidade, que nos permitisse garantir o acesso à água para todas as famílias, mas com tarifas mais justas.
CAPITAL SOCIAL – O senhor estaria pronto para assumir a Prefeitura de Santo André que, pelo andar da carruagem fiscal, poderia estar em situação complicadíssima na próxima temporada? Contingenciamentos decididos nesta semana não indicariam que o quadro se agravaria mesmo?
EDUARDO LEITE – Me sinto absolutamente preparado. Reconheço que o cenário será exigente, porém, para além da redução de despesas supérfluas, existem outras maneiras de aumentar a arrecadação sem sobrecarregar ainda mais as famílias. Em um contexto fiscal adverso, a inovação é fundamental, e devemos buscar inspiração em bons exemplos. Um caminho a seguir são os passos de cidades como Osasco e São Carlos, que atraíram empresas do setor de Tecnologia da Informação e, consequentemente, aumentaram significativamente suas receitas. Dessa forma, poderemos recuperar a capacidade de investir em áreas essenciais como Segurança, Saúde e Educação.
CAPITAL SOCIAL – Agentes da Receita Municipal de Santo André fizeram duros ataques à gestão do prefeito Paulinho Serra, encaminhando representação ao Tribunal de Contas do Estado. Qual seria o tratamento que o senhor dispensaria à categoria?
EDUARDO LEITE – Minha relação com os servidores públicos de nossa cidade sempre foi pautada pelo respeito mútuo e pelo diálogo aberto, e continuará assim. Estou comprometido em compreender o cenário atual e buscar as melhores soluções de forma democrática e transparente, mantendo um canal de comunicação constante.
CAPITAL SOCIAL – Se o senhor tivesse que tomar alguma decisão inaugural como prefeito que o levasse a considerar algo como choque de gestão, o que estaria engatilhado nesse sentido?
EDUARDO LEITE – Vamos enfrentar, inevitavelmente, o desafio dos números que atualmente colocam Santo André como uma das cidade mais endividadas do Estado. Será necessário implementar cortes de despesas, reavaliar contratos e fortalecer parcerias com os governos estadual e federal. Teremos que nos esforçar ao máximo para evitar que a cidade perca seu potencial de investimento e para manter a economia local aquecida. Embora seja uma tarefa difícil, acredito que é possível superá-la com determinação e trabalho árduo.
CAPITAL SOCIAL – O senhor considera possível iniciar a partir do ano que vem, com eventual vitória eleitoral, um processo de destruição dos rastros de empobrecimento real e relativo de Santo André na região, no Estado e no País como um todo, roteiro que está bem delineado com a queda permanente no ranking de PIB per capita nos últimos 40 anos? Haveria um foco definido como medida-mestra?
EDUARDO LEITE – A luta contra a pobreza e o compromisso com a criação de ações que promovam dignidade e qualidade de vida são uma constante em minha trajetória na vida pública. Tenho dedicado esforços nesse sentido ao longo de toda a minha carreira. Entendo que mais do que simplesmente investir em programas sociais, é fundamental criar oportunidades reais para a população, promovendo a geração de emprego, renda e identificando o potencial vocacional de Santo André. Desta forma, novos projetos podem ser desenvolvidos, proporcionando os resultados que os andreenses merecem e precisam.
CAPITAL SOCIAL – Se a disputa eleitoral fosse hoje, e se fosse possível especular sobre pesos relativos que fariam a cabeça do eleitorado de Santo André, dentro de uma região metropolitana, o senhor diria que o voto municipal teria que peso, bem como o voto estadual e o voto federal? Em resumo: quanto pesaria o voto com preocupação exclusivamente local? Quanto do ambiente político estadual e federal influenciaria o resultado das urnas municipais em Santo André? O senhor acredita que um leitor de direita, conservador, votará no senhor?
EDUARDO LEITE – Eu não vejo essa polarização na cidade. Sinto que as pessoas desejam o melhor para Santo André, e certamente vão buscar alguém capaz de assegurar a continuidade do que foi positivo e progredir em áreas que ainda necessitam de desenvolvimento, como por exemplo, à Segurança Pública.
CAPITAL SOCIAL – O senhor conta com forças exclusivamente de esquerda, para vencer as eleições em Santo André ou acredita que o eleitorado de centro-esquerda ou mesmo de centro estaria perfilado em sua campanha?
EDUARDO LEITE – Minha família e eu temos uma conexão muito profunda com Santo André. Meus pais nasceram aqui, eu sou andreense, e meu pai foi vereador por quatro mandatos. Atualmente, estou em meu terceiro mandato como vereador. Sempre mantivemos uma postura equilibrada, fundamentada no bom-senso. Nossa trajetória nos permitiu conquistar apoio em diversos setores da cidade. Sinto que as pessoas estão mais interessadas em conhecer quem apresentará as melhores propostas e quem possui a experiência e o perfil mais adequado para liderar a cidade.
CAPITAL SOCIAL – O Legislativo de Santo André serve de exemplo em contraposição à visão geral de que se trata, como tantos outros, apenas de um puxadinho do Executivo? Haveria algum exemplo de que não o seria, tendo esse exemplo como regra, não exceção? O senhor acredita em que modelo de Legislativo nas relações com o Executivo: da amistosidade municipal ou do que vemos em Brasília, com um derramamento de cotas de emendas parlamentares e o quase-sequestro do orçamento?
EDUARDO LEITE – Não vejo como negativa uma relação harmônica entre o Executivo e o Legislativo, desde que essa relação seja construída em torno de programas e respeitando a independência entre os poderes. Em âmbito federal existe uma interferência exagerada por parte do parlamento no orçamento da União, algo que considero prejudicial.
CAPITAL SOCIAL – O senhor se assusta quando toma conhecimento de que a cadeia de produção industrial de Santo André foi dizimada ao longo dos anos e só restou mesmo, com todas as dificuldades, a rede industrial químico-petroquímico? Santo André é a cidade da região que tem a menor participação de emprego industrial dividido pela população. Esse dado é alarmante e comprova a delicadeza da situação. Pior que isso é que o setor de serviços é de baixo valor agregado. Só supera, na região, em média de remuneração, e mesmo assim com dificuldades, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O senhor faria de sua gestão um choque de realidade em termos de comunicação com a sociedade ou vai repetir os antecessores, que amenizaram o discurso da desindustrialização?
EDUARDO LEITE – O primeiro passo para resolver um problema é reconhecer sua existência. É inegável que o Grande ABC perdeu competitividade industrial ao longo dos últimos anos em comparação com outras regiões do país, em especial a nossa cidade. Apesar dessa situação, continuamos com um grande potencial, e penso que o nosso desafio vai além da reindustrialização, precisamos estimular e atrair novos setores econômicos. Tenho me dedicado a buscar experiências de outras cidades, como Recife, que vem desenvolvendo fortemente o setor de tecnologia através da capacitação da população, incentivos ao setor e desburocratização do processo de abertura de novas empresas.
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira