Entrevista Especial

44 meses depois, decidimos
responder por Paulinho Serra

DANIEL LIMA - 10/04/2023

Ora, bolas: se o prefeito de Santo André prometeu de pés juntos que estava pronto para responder às perguntas de CapitalSocial e se o prefeito de Santo André não respondeu às perguntas de CapitalSocial, então CapitalSocial vai responder às perguntas de CapitalSocial. 

Quarenta e quatro meses depois desse marco inicial de compromisso público, decidi reproduzir as questões que foram enviadas ao prefeito de Santo André, que tomara posse em primeiro de janeiro de 2017. Em 25 de julho de 2019, quando 18 perguntas centrais foram enviadas ao prefeito de Santo André, já se haviam passado 31 meses de administração. Tempo suficiente para dar respostas. 

Tomamos a decisão de partir para os finalmentes que os leitores verão abaixo porque não poderíamos deixar escapar o mês de festejos de 470 anos de Santo André. É um período de muita festa, em contraste com um Município que vem perdendo riqueza há quatro décadas e que, exceto o fenômeno administrativo Celso Daniel, não conheceu nenhum gestor público que ousasse cutucar o futuro que sempre chega e que vira passado. 

Segue a entrevista especial de CapitalSocial com CapitalSocial, ante a ausência de Paulinho Serra. O resultado, acreditem, será muito melhor do que se o prefeito houvesse honrar o prometido. Pelo menos, e sem exagero, não teríamos uma sequência nebulosa de verdades inteiras, meias-verdades e, digamos, fortes provas de fake news.   

CapitalSocial – Se o senhor fosse fazer um diagnóstico dos ativos e dos passivos sociais e econômicos de Santo André neste século, só neste século, quanto seria a participação de sua Administração em termos percentuais tanto numa coisa quanto na outra? 

RESPOSTA – Somente nas últimas entrevistas, especialmente de aniversário de Santo André, Paulinho Serra fez crítica aos antecessores, sem entrar em detalhes. Fez menção implícita a Carlos Grana, prefeito que o antecedeu e do qual foi secretário de Mobilidade Urbana. Aliás, um desastre de atuação. Paulinho Serra esqueceu, como secretário de uma área que mal conhecida, que não há elasticidade nas ruas e avenidas em que introduziu corredores de ônibus. Cimento e argamassa não são plásticos. Houve, portanto, incompatibilidade de gênero material. Os corredores foram um fracasso.    

CapitalSocial – O Instituto ABC Dados coloca sua gestão num nível crítico de atendimento às demandas sociais em várias áreas tipicamente de ações públicas locais. O senhor costuma responder a questões semelhantes com suspeitas sobre o mensageiro, desclassificando a mensagem. Nesse caso, o senhor considera os índices registrados uma fantasia do instituto de pesquisa? 

RESPOSTA – A Administração que chefia apurou o foco no atendimento a classes mais sofridas, tendo à frente a própria mulher, Carolina Serra, como agente de ação. Carolina foi eleita deputada estadual com votos dos excluídos sociais. Pela primeira vez na história de Santo André se deu a transformação sistêmica de pobreza em voto. Um chute certeiro do prefeito Paulinho Serra.   

CapitalSocial – Dados de 2016 do Índice Firjan de Gestão Fiscal, cuidadosamente analisados neste espaço, colocam Santo André na Série C do Campeonato Brasileiro. Ainda faltam os dados de 2017 e 2018, que sempre atrasam por conta da complexidade dos estudos. Santo André ocupava naquela temporada a 803ª colocação entre os mais de cinco mil municípios brasileiros, o 85º posto no Estado de São Paulo e apenas o 11º lugar no G-22, o Clube dos 20 Municípios Mais Importantes do Estado, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O IFGF aborda cinco vetores que diagnosticam o estado de saúde das finanças municipais. O senhor acredita que houve melhoras nos últimos anos? Mais que isso: esses posicionamentos não podem ser interpretados como preocupantes? 

RESPOSTA -- Os dados oficiais, de fontes confiáveis, estão ainda num passado pouco esclarecedor. No que houve de novas informações, a movimentação no ranking não foi nada impactante. Nem para cima, nem para baixo.  

CapitalSocial – Que nota de zero a 10 o senhor daria aos prefeitos que ocuparam o Paço Municipal neste século? O senhor tem algum deles como referencial positivo ou os coloca no mesmo saco de gatos? 

RESPOSTA – Ao longo dos seis anos de gestão, Paulinho Serra procurou se desvencilhar publicamente do legado de Celso Daniel, que ele, Paulinho Serra, enalteceu anteriormente. Mas corre atrás do legado do petista, com algumas adaptações que não alteram o placar do jogo de distanciamento entre um e outro. O partidarismo ecoa no Paulinho Serra prefeito. O petismo que está na Administração de Santo André esconde Celso Daniel porque a comparação seria desastrosa.   

CapitalSocial – Nos três últimos anos de crise econômica já apurados, de dezembro de 2014 a dezembro de 2017, Santo André ficou entre os municípios mais abalados com a queda de salário médio. Houve uma perda frente a inflação de 3,62 pontos percentuais. Qual sua avaliação sobre isso, levando-se em conta, também, que Santo André classificou-se em 14º lugar num ranking dos 20 maiores municípios do Estado, fora a Capital? 

RESPOSTA – Também faltam dados mais consistentes. Entretanto, pelo andar da carruagem do desempenho do PIB nos quatro primeiros anos de mandato de Paulinho Serra, com queda acumulada 17,50% na contabilidade per capita, tudo indica que o encerramento de dois mandados não transformará vermelho em azul.   

CapitalSocial – O posicionamento não é diferente no ranking de produtividade por trabalhador na indústria. Santo André ocupa a 12ª posição entre os 20 maiores, com viés de rebaixamento contínuo. Os números mostram que a cidade e o Grande ABC perdem competitividade a cada temporada. Como sair dessa enrascada? 

RESPOSTA – A produtividade do trabalhador industrial de Santo André tende a avançar consistentemente. Tudo porque cada vez mais a cidade perde indústrias de diversas atividades e avança na geração de Valor Adicionado do setor Petroquímico e Químico, que emprega pouca mão de obra e gera muito ganho fiscal. Menos que a vizinha Mauá, com a qual divide o Polo Petroquímico, mas o suficiente para mascarar a desindustrialização que prossegue.  

CapitalSocial – Nas poucas oportunidades em que o senhor se refere à economia de Santo André prevalece oratória de enaltecimento do setor de serviços como espécie de salvação geral. Mas a realidade é diferente: a desindustrialização gravíssima pela qual passou o Município ao longo de décadas está longe de ser compensada pelas atividades de serviços, modesta em relação à maioria dos principais municípios do Estado. A qualidade do emprego de serviços em Santo André o satisfaz de verdade? 

RESULTADO – Paulinho Serra segue a ignorar dados do mercado de trabalho industrial. As perdas são constantes. Tanto que ainda não se recuperou da recessão provocada por Dilma Rousseff, entre 2015-2016.   

CapitalSocial – O senhor não demorou demais, mas muito mesmo de, após mais de 30 meses de mandato, não ter efetivado políticas estratégicas na área econômica para tomar o pulso produtivo e devassar as razões que colocaram Santo André na penúltima colocação do G-22 no ranking de PIB por habitante? É sensato chegar-se a 31,33% de perda neste século, ou seja, um terço do PIB per capita, e nada, absolutamente nada de estrutural, ter saído das entranhas públicas?  

RESULTADO – Paulinho Serra anuncia aos quatro ventos duas ações principais. A primeira trata de desburocratização aos empreendedores e a segunda da descoberta do mundo digital na Economia. São medidas-padrão da maioria dos municípios de médio e de grande porte do País. O setor industrial e a Economia como um todo seguem órfãos de um plano estratégico.  

CapitalSocial -- O senhor acredita mesmo que com um Parque Tecnológico tão esperado e tão decepcionantemente retardatário Santo André sairia da pasmaceira econômica e social em que se encontra? Costumo dizer que, em grande parcela dos casos, sobretudo dos casos sob a égide da política partidária, parques tecnológicos não passam de nichos que mascaram a realidade bem menos nobre.  

RESULTADO – O Parque Tecnológico de Santo André tem endereço certo, tem recursos financeiros, mas ainda não virou realidade. As informações já conhecidas dão conta de que terá dificuldades de mostrar resultados no ritmo que Santo André exige entre outras razões porque Parque Tecnológico não é em lugar algum com as características de Santo André ferramenta suficiente para virar o jogo econômico. Por enquanto, o Polo Tecnológico é virtual. A Avenida dos Estados espera por unidade que, sozinha, não fará verão.  

CapitalSocial -- O senhor acredita que uma ou outra ponte na Avenida dos Estados, como se está anunciando, retirará aquela serpentina asfáltica da lista de um dos modais mais pronunciadamente improdutivos do sistema logístico do Grande ABC? Consideramos a Avenida dos Estados sob o ponto de vista de produção, de produtividade, mais que um estorvo ao Desenvolvimento Econômico. O senhor acha um exagero?  

RESULTADO – As obras já realizadas para aplacar em parte o desencaixe de produtividade de Santo André no campo econômico e as obras que estão em execução nem de longe significarão alteração no placar de derrotas seguidas. Santo André precisa de muito mais que um viaduto consertado aqui, um viaduto com nova alça ali, na Avenida dos Estados. Esse modal perdeu-se no tempo com fonte de investimentos privados produtivos. De fato, abriu as porteiras da desindustrialização. Logística para fins de serviços é uma coisa. Logística industrial é outra.   

CapitalSocial -- O senhor está decepcionado com o fluxo de recuperação diretiva do Clube dos Prefeitos, do qual é o titular há sete meses, levando-se em conta que os dissidentes ainda não voltaram, não pagaram os atrasados de filiados rebeldes e incompetentes e a entidade continua sem foco no desenvolvimento econômico muito além do proselitismo político? Mais que isso: o senhor se calou o tempo todo nos dois anos de destruição do Clube dos Prefeitos, uma obra perfeita de seu antecessor, Orlando Morando. Tanta omissão não sinaliza à sociedade que o Clube dos Prefeitos não tem nada de importante ou o alinhamento partidário é muito mais relevante?         

RESULTADO – Paulinho Serra piorou o que já era ruim no Clube dos Prefeitos. Sem habilidade e pressionado por terceiros muito próximos e interessados em partidarizar a instituição, provocou a retirada de São Bernardo e de São Caetano. O Clube dos Prefeitos é uma perfeita construção institucional da imperfeição de relações entre os municípios do Grande ABC. O que sobra de marketing e de arranjo político-eleitoral falta de objetividade para atenuar as dores econômicas da região.  

CapitalSocial -- O senhor se pronunciou favorável ao BRT e não ao monotrilho somente depois de o governador João Doria decidir dar um drible da vaca no Diário do Grande ABC e apresentar um menu completo de intervenções logísticas no Grande ABC. Por que não o fez antes, durante a campanha maciça do Diário em defesa do monotrilho? Por que não mobilizou a sociedade em defesa do BRT, já que o sistema o agradava tanto?  

RESULTADO – Paulinho Serra adotou um figurino público conhecido da maioria que já ocupou a direção do Clube dos Prefeitos: vai de acordo com o balanço do navio de interesses políticos e partidários. Quando o mar está revolto, a decisão é de recolher as armas. Quando o mar está convidativo, parte-se para suposta ação libertadora.   

CapitalSocial -- Como o senhor explica que a chamada Casa do Grande ABC em Brasília é um desperdício de dinheiro público e está muito longe da imperiosidade de ações conjugadas com preparo técnico das iniciativas? Casa do Grande ABC sem ferramental de projetos tecnicamente e financeiramente viáveis não seria algo como jogar dinheiro no lixo?  

RESULTADO – A Casa do Grande ABC em Brasília foi mais uma ação patética de prefeitos ou parte dos prefeitos do Clube dos Prefeitos que pretendiam fazer marketing provinciano. Jamais se consumou como algo positivo porque sempre se caracterizou como dissidência dissimulada de coesão.   

CapitalSocial -- Como o senhor mantém no organograma da Prefeitura uma mais que manjada inutilidade chamada Ouvidoria, quando se sabe que se trata de penduricalho sem qualquer conotação crítica à Administração Pública, atuando, portanto, num esquema chapa-branca de suporte político-partidário? Por que o senhor não cobra da Ouvidoria uma convocação da sociedade e, em conjunto, exponha com clareza, transparência e didatismo tudo o que já fez no campo fiscal?  

RESULTADO – A Ouvidoria de Santo André é como a ouvidoria de qualquer outro Município brasileiro. Não passa de jogo de cena para mostrar o que ganha foro de marketing político e esconder o que seria um ponto de partida factível a críticas consistentes. A Ouvidoria de Santo André é uma fraude quando observada no sentido mais amplo de atuação. É um cantinho de intermediação de consertos varejistas sem qualquer relação direta com a estrutura organizacional que interessaria ao conjunto da sociedade.   

CapitalSocial – Por que o senhor não abre uma campanha regional em defesa dos fundamentos que criaram a Fundação do ABC, retirando a escuridão administrativa daquela instituição?  

RESULTADO – Paulinho Serra protagonizou a série de crises diretivas da Fundação do ABC, inclusive com indicações de correligionários sem competência para cargos técnicos. A Fundação do ABC é uma caixa-preta. Uma auditoria externa desvendou parte de desvios de recursos financeiros.   

CapitalSocial -- Por que o senhor anunciou após a crise da cobrança tresloucada do IPTU de Santo André no ano passado que formaria uma comissão para equacionar o problema e desistiu da ideia sem dar satisfação ao interesse público? Mais que isso: o que fez para compatibilizar as receitas do IPTU com a competitividade econômica municipal notadamente desajustada? 

RESULTADO – Paulinho Serra não fez nem uma coisa nem outra. A comissão que acertaria os ponteiros do IPTU foi jogada às traças. Os dados sobre o IPTU de Santo André seguem a lógica de obscurantismo dos administradores públicos em geral -- são inescrutáveis. Não existe transparência nem tampouco preocupação em tornar o imposto algo que impulsione o desenvolvimento econômico.  

CapitalSocial -- O senhor seria capaz de dizer de supetão quem é o seu Secretário de Desenvolvimento Econômico, ou seja, o homem com a responsabilidade de liderar ações para recolocar nos trilhos o desenvolvimento que escapuliu do controle da Prefeitura desde muito tempo? Quem são os auxiliares do secretário? Qual o currículo deles na área? Como desprezar esses dados para transmitir ao morador de Santo André que exista uma Administração preocupada para valer com o futuro? 

RESULTADO – Paulinho Serra tem dado atenção especial ao grupo de assessores que atuam na gestão de uma Santo André digitalizada. Mas é muito pouco diante dos desafios que o Município enfrenta há pelo menos 40 anos. Um grupo competente é pouco perto de uma força-tarefa multissetorial ausente.  

CapitalSocial -- O senhor discorda da constatação de que, com a saída diária de 50% da População Economicamente Ativa em direção a outros municípios da região e da cidade de São Paulo, Santo André sofre há muito tempo com a fuga de cérebros, cujos resultados se espalham por vários campos culturais, inclusive na baixa apetência de participação social? 

RESULTADO – Não se tem dados mais atualizados sobre a fuga de cérebros de Santo André e da região como um todo, mas a depauperação do mercado de trabalho em Santo André está confirmadíssima por dados oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego. A média salarial de Santo André em 2020 (dados mais recentes) só superava Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra no Grande ABC. Um desastre para a antiga Capital Econômica do Grande ABC.



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