Caso Celso Daniel

CapitalSocial torna prioridade
análise da série da Globoplay

DANIEL LIMA - 31/01/2022

CapitalSocial está acompanhando atentamente os episódios da série “O Caso Celso Daniel”, que a Globoplay começou a exibir na plataforma streaming. Trata-se de produção da Escarlate, após cinco anos de pesquisas. É um trabalho de fôlego que possivelmente trilhará caminhos semelhantes aos da revista impressa LivreMercado e sua sucessora CapitalSocial, de características únicas na mídia nacional pela profundidade, longevidade e espírito crítico.   

A percepção de paralelismo independente é resultado dos dois primeiros episódios já apresentados na Globoplay. É muito pouco provável que o acervo de CapitalSocial, depois de tantas incursões de LivreMercado, sofra antagonismos a ponto de comprometer enredos cristalizados  

Os atores da coreografia polêmica do Caso Celso Daniel são os mesmos da Globoplay e de CapitalSocial, porque isso é o Caso Celso Daniel. Se são os mesmos, não há como acreditar que, agora que viraram protagonistas, sejam diferentes do que foram antes. Nos erros e nos acertos.  

AUTORAL E COLETIVO 

O seriado não tem o tom autoral de CapitalSocial. A direção optou por manter distanciamento crítico. Entregou aos próprios protagonistas a condução do enredo. Temos um produto audiovisual de autoria e ação coletiva, sob a direção do cineasta Marcos Jorge, mas com características pouco comuns: os próprios entrevistados se converteram em atrações na arena de exposições, com pontos e contrapontos que os consagrarão ou os desqualificarão.  

A depender do que já se ofereceu saído que saiu dos depoimentos dos envolvidos, teremos a definição esperada. Crime comum e crime de encomenda são bifurcações desafiadoras à compreensão geral.  A contundência expositiva de CapitalSocial não será explicitada no documentário. A escolha pela sutileza é o padrão do seriado.  

Quem assistir aos episódios do Caso Celso Daniel tendo em vista que conhece bem o Caso Celso Daniel reagirá naturalmente ao prospectar futuros lances.  

É inescapável que, sabendo-se e reconhecendo-se a qualidade do produto de audiovisual, a projeção de novos lances brota quase automaticamente, seja como peça da carpintaria de crime comum ou de crime de encomenda.  

EDIÇÃO PRIMOROSA  

A edição dos dois primeiros episódios da Globoplay foi primorosa não apenas em técnica cinematográfica e especificidades que incluem identidade gráfica e visual. 

Uma obra que se equilibra ante pressões externas muitas vezes exacerbadas de um assassinato revivido em ano eleitoral é uma obra que exige personalidade dos responsáveis pela produção e direção. Uma sintonia fina como padrão do produto.  

A opção por um documentário entregue integralmente aos protagonistas da história, sem qualquer interferência narrativa de terceiros, é um espetacular chute nos fundilhos de quem procura politizar o Caso Celso Daniel além da natural composição dessa vertente implícita na morte do prefeito.  

O documentário conta com formato que o instala em patamar inatingível às idiossincrasias do ambiente político nacional nestes tempos de intolerâncias mútuas marcados pela coincidência de ser levado ao público em ano eleitoral. Como foi eleitoral 2002, quando Celso Daniel foi assassinado. E 20 anos se completam agora.  

ARREDONDAMENTO 

Há um simbolismo especial na cronologia arredondada. Petistas já se manifestaram desconfiados de que o Caso Celso Daniel é uma manobra para atingir Lula da Silva. Antipetistas veem fantasmas de protecionismo ao candidato presidencial.  

O compromisso deste jornalista, autor de todos os textos do Caso Celso Daniel tanto para LivreMercado quanto para CapitalSocial, é continuar uma saga que já completou 20 anos e que jamais se submeteu a qualquer tipo de pressão e ao calendário político, mesmo que o calendário político se repita a cada novo ano.  

Os algoritmos registrados no site de CapitalSocial confirmam a credibilidade do jornalismo de caráter autoral.  

As várias análises já publicadas com base na série da Globoplay aparecem como favoritas do leitorado. Isso só aumenta a responsabilidade entre os novos consumidores da publicação.  

ATENÇÃO REDOBRADA  

O documentário da plataforma de streaming é de qualidade técnica e investigativa a qualquer prova. Mais que isso: é de perfil discreto a ponto de exigir dos assinantes atenção redobrada à compreensão da narrativa. A sutileza sufoca o escancaramento. 

A opção da Produtora Escarlate por um documentário que entrega aos assinantes da Globoplay a avaliação reflexiva do Caso Celso Daniel mostra que o exercício da cidadania crítica está sendo testado com extrema competência.  

LivreMercado e CapitalSocial já ultrapassaram essa barreira. Ao longo de duas décadas, por força de fontes inesgotáveis de informações e documentações, LivreMercado e CapitalSocial chegaram à conclusão de que o Caso Celso Daniel é um crime de ocasião sem qualquer relação com financiamento paralelo de campanha eleitoral e de desvios a terceiros. Toda as forças policiais definiram-se por esse caminho após exaustivas investigações.  

JUIZO DE VALOR  

A proposta da Globoplay é outra. O juízo de valor cabe aos assinantes da plataforma. E um juízo de valor que, a prevalecerem os dois primeiros episódios de oito, exigirá atenção redobrada. O enredo bem costurado afasta-se totalmente de produções audiovisuais panfletárias do Caso Celso Daniel. 

O que coloca LivreMercado/CapitalSocial dissociado da maioria que se ocupou diretamente ou não do Caso Celso Daniel é que é impraticável e insana a lógica de crime de encomenda tendo como pano de fundo crime político. 

Para CapitalSocial, a interpretação dos telespectadores da Globoplay ao fim do documentário, considerando-se a ausência de qualquer fato novo, deverá passar por reavaliações. A maioria deverá seguir a versão de crime de encomenda, porque o componente político-eleitoral assim o imporá. Mas haverá nova leva de pessoas que vão reconsiderar pontos de vista baseados em abordagens imprecisas.  

É MESMO ELEFANTE  

Tudo indica após os dois primeiros episódios que a tromba é de elefante, apenas de elefante, até porque outro bicho não tem tromba de elefante.   

Há tantos pontos que seriam colocados em xeque na série da Globoplay que é impossível acreditar na manutenção de determinadas conclusões acríticas.  

Um dos momentos demolidores das teses de conspiração concentra-se na calça que Celso Daniel vestia no dia do sequestro, além do laudo de tortura, bem como dos sete assassinatos supostamente vinculados ao caso.  

Tudo isso foi escandalosamente manipulado pelos defensores da tese de crime de encomenda, mesmo após atirado no lixo pelas forças policiais. Entretanto, sem destaque ou mesmo com o descarte explicativo da Grande Mídia, versões fraudulentas ainda prevalecem.  

HORA DA VERDADE  

A Globoplay possivelmente reparará esse equívoco. Cinco anos de pesquisas assegurariam correções.

Isso e muito mais, exaustivamente analisados por LivreMercado/CapitalSocial, deverão constar da série documental. Com isso, vai cair a casa de teses desconexas que incriminaram um inocente.  

A suposição de que o documentário não deixaria escapar esses pontos é, portanto, o raciocínio lógico herdado dos dois primeiros capítulos. Alguns vetores já tocados e que não foram elucidados possivelmente o serão nas próximas semanas.  

Entre os quais, repetindo-se, a informação de que Celso Daniel vestia uma calça bege. Há elementos investigativos essenciais a compor o arrazoado de crime comum e de crime de encomenda também por força da calça utilizada pelo prefeito. Estar com a calça com a qual saiu para jantar faz muita diferença no enredo final. Como tantos outros detalhes subjugados.  

EDITORIA ESPECÍFICA  

Há nos arquivos desta revista digital quase 200 textos do Caso Celso Daniel. O tema é tão relevante que gerou editoria própria, ou seja, uma especificidade de tratamento jornalístico. Como Economia, Administração Pública, Sociedade, Imprensa e tantas outras. 

Isso é resultado prático da importância não só do assassinato em si, porque evidente, mas sobretudo à grandiosidade de Celso Daniel como gestor público no Grande ABC. Simplesmente o melhor de todos os tempos. Disparatadamente.  

Seguir os passos da série documental da Globoplay é, portanto, nossa missão nos próximos tempos. E não arredaremos pé entre outros motivos porque agora, finalmente agora, deverá saltar aos olhos de forma mais consistente a verdade dos fatos que a Grande Mídia distorceu, quando não subestimou ou mesmo negou com cobertura jornalística inadequada. Não só inadequada, como também enviesada.  

DOMÍNIO POPULAR  

Não é tarefa fácil deslocar o assassinato de Celso Daniel do esquadrinhamento de crime de encomenda para crime comum. Nem se pretende chegar a tanto agora que supostamente uma série de televisão bem elaborada deverá mostrar o que a Grande Mídia escondeu ou mitigou.  

Basta reduzir a carga distorcida de crime de encomenda que prevalece no imaginário popular para compensar essa retomada. O massacre de mão única que tornou Sérgio Gomes da Silva mandante do assassinato dificilmente resistirá ao contraditório.  

Os promotores criminais que o acusaram jamais apresentaram qualquer complemento a tudo aquilo que consta dos autos. E tudo aquilo que consta dos autos está longe de caracterizar culpabilidade fática de Sérgio Gomes da Silva, morto em 2016.  

GRANDE ANEDOTA  

Questionamentos deverão surgir em defesa do primeiro-amigo de Celso Daniel. A grande anedota transformada em acusação afundará. Tratado como “Sombra” pelo Ministério Público, ninguém ou poucos se deram conta de que o enredo dos acusadores colocou Sérgio Gomes da Silva em posição que jamais pretendeu ser visto – ou seja, de protagonista para o qual os holofotes todos iriam se direcionar.  

É insano sob qualquer ponto de vista que alguém que jamais saiu das sombras do poder se lançasse às manchetes voluntariamente. Sombra alguma sai das sombras. Exceto diante do imponderável. E o sequestro foi o imponderável que entrou em campo e mudou a história de Santo André, da região e mexeu com as balizas demarcadoras da política nacional.  

Nos últimos dias editamos textos sobre essa nova fase do Caso Celso Daniel, ou seja, sobre a produção da Escarlate que ganha a marca da Globoplay. Amanhã apresentaremos mais um texto sobre a importância de dar ao assassinato de Celso Daniel relevância atemporal, porque subsiste de forma objetiva e subjetiva na política nacional. 

EQUIVOCOS DEMAIS  

Sabemos que não faltarão mídias, sobremodo impressas, que evitarão dar destaque aos episódios da Globoplay. Provavelmente ficarão na superfície do assassinato, nas formalidades de não comprometimento editorial.   

Incomoda aos grandes jornais e mesmo às emissoras de televisão ter de admitir o quanto fracassaram na cobertura do assassinato. Não há na Grande Mídia um único jornalista com efetivo domínio de informações.  

A trajetória de 20 anos não é a única explicação. O Caso Celso Daniel jamais mereceu da Grande Mídia algo como um setorista permanente. Nem nos primeiros tempos, quanto mais ao longo dos tempos. 

E os jornalistas que acompanharam os primeiros tempos do Caso Celso Daniel caíram na estrada da perdição da fonte exclusiva do Ministério Público, especificamente da força-tarefa instalada em Santo André a mando do governador do Estado, Geraldo Alckmin.  

IRMÃOS DISTANTES  

Todos caíram no conto de unidade afetiva da família Daniel. Os irmãos mal se falavam, mal se visitavam, mal se cumprimentavam. Eram três distintos caminhos ideológicos – o mais velho João Francisco Daniel, de direita, o mais jovem Bruno Daniel, perseverante de extrema-esquerda e o mais do meio, Celso Daniel, menos dogmático de esquerda.  

CapitalSocial de dezenas de textos do Caso Celso Daniel, em continuidade à teimosia de LivreMercado ao enfrentar forças opositoras, não deixará de fazer de cada novo episódio do seriado da Globoplay uma nova incursão esclarecedora.  

Estamos em situação mais que confortável diante de tantas outras mídias. Sabemos de cor o caminho da roça de verdades, meias-verdades e mentiras inteiras do Caso Celso Daniel. É fácil, portanto, detectar impropriedades que depoimentos à Globoplay eventualmente apareçam.  

Um exemplo? Bruno Daniel disse, ao responder sobre Sérgio Gomes da Silva, que, de fato, não o conhecera mais proximamente, embora informasse que o homem acusado de mandar matar Celso Daniel frequentava sua casa e brincava com seus filhos menores de idade.  

PROXIMIDADE NEGADA  

O mesmo Sérgio Gomes da Silva mantinha relações de amizade com a mulher de Bruno Daniel, Marilena Nakano, a partir da campanha do petista rumo à Prefeitura de Santo André, em 1988.  

A mesma Marilena Nakano que revelou uma faceta pouco explorada de Sérgio Gomes: o então segurança de Celso Daniel era um homem de esquerda. A imagem prevalecente de Sérgio Gomes da Silva é de mandante do assassinato de Celso Daniel sem qualquer intimidade ideológica. 

Bruno Daniel declarou durante o episódio da Globoplay que Sérgio Gomes mudara seguidamente a versão do arrebatamento de Celso Daniel, mas, em contrapartida, foi impreciso quanto a proximidade com Sérgio Gomes da Silva como também alterou nos primeiros anos pós-assassinato a versão do esquema de propinas na Prefeitura de Santo André.  

Ficaremos atentos a eventuais artimanhas de personagens do Caso Celso Daniel em busca de repaginação dos fatos e das versões. Acompanhar cada episódio com atenção redobrada é o conceito que move os interesses desta publicação.  

LIGANDO OS PONTOS  

Ligar todos os depoimentos na reconstrução do Caso Celso Daniel, portanto, não é para qualquer um. É indispensável conhecer a história desde o princípio. O documentário da Globoplay mostrou-se precioso nesse sentido nos dois primeiros episódios. Mesmo sem descer a detalhes.  

Alguém tem dúvidas de que, passados 20 anos e declaradas tantas frases e constatações, é improvável que recuos declaratórios para reparar equívocos não seriam probabilidades a considerar?  

É disso que trataremos no acompanhamento da série documental. Alguns pontos já foram destacados nos primeiros textos que preparamos e publicamos nos últimos dias.  

O princípio tem um fim específico: levar aos leitores remanescentes do caso ou aos novos leitores uma acirrada preocupação com o esclarecimento do crime nos pontos eventualmente ainda obscuros.  

A série documental da Globoplay se apresenta de forma inédita como um instrumento encouraçado da Grande Mídia a ponto de potencializar a expectativa de que mais luzes e menos obscuridades emergirão na avaliação do Caso Celso Daniel. Agora há ponto e contraponto a temperar narrativas que serão escrutinadas sem esmorecimento. 



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