Meias Verdades

ABCizar, gosto duvidoso
de obra nunca realizada

DANIEL LIMA - 01/04/2003

  •  Na edição de 7 de dezembro de 1995, o Diário do Grande ABC entrevistou o diretor-titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em Santo André, o empresário e médico Fausto Cestari Filho. Sob o título “Empresário diz que ABCizar é saída para economia da região”, selecionamos os seguintes trechos:

Um projeto novo para o atual momento de recriação da economia regional. É assim que o empresário Fausto Cestari Filho define o seu plano de ABCização. Inspirado no projeto Primeira Opção (que incentiva empresas de Santo André a priorizarem fornecedores locais nas suas compras) e no processo de mineirização da Fiat (de estímulo à industrialização do Estado), Cestari considera a ABCização uma forma de inovar na guerra fiscal e proporcionar ganhos iguais para empresas e contribuintes. Segundo o empresário, o Grande ABC tem dois setores — indústrias automotiva e química — já prontos para serem inseridos no projeto de ABCização e um terceiro — o da indústria plástica — em que precisam ser preenchidas as etapas intermediárias de produção. O projeto consiste na criação de um fundo que administrará o bônus a ser obtido pelas empresas que priorizarem compras na região. O bônus pode ser uma parcela do ICMS arrecadado pelo município.


Sete anos depois da proposta que jamais foi materializada, a situação da pequena e média indústria no Grande ABC, foco da chamada ABCização, é mais que dramática. Os setores avocados por Fausto Cestari Filho e que formam a espinha dorsal da economia do Grande ABC sofreram nesse período a mais dura prova de resistência ditada pela abertura econômica e os efeitos nocivos do mau gerenciamento do governo federal.


Cooperação empresarial jamais foi aplicada de forma sistemática e persistente na região. As relações draconianas entre grandes empresas dos setores químico-petroquímico e entre automotivas tradicionais nos tempos de mercado fechado tornaram-se insuportáveis com a abertura dos portos.


O enxugamento dos fornecedores de suprimentos virou sinônimo de competitividade internacional para as grandes corporações. Com isso, o torniquete sobre os pequenos e médios negócios apertou-se ainda mais. A desnacionalização, principalmente no setor automotivo, substituiu em larga escala as indústrias familiares que restaram da evasão iniciada nos anos 80.


Sem capacidade de organizarem-se regionalmente nos assuntos mais corriqueiros, as delegacias do Ciesp no Grande ABC permaneceram passivas e perplexas diante do esfacelamento industrial regional.


Fausto Cestari tornou-se, nos anos seguintes à entrevista, coordenador-geral do Fórum da Cidadania, candidato derrotado a deputado estadual, membro da Agência de Desenvolvimento Econômico e da Câmara Regional e agora é vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, além de vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Uma carreira corporativa sem simetria alguma com a decadência dos pequenos e médios negócios industriais.


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