O jogo entre o vereador Eduardo Leite e os governistas de Santo André não será amistoso nesta temporada de votos. Embora movimentações tentem doutrinar os potenciais eleitores de Eduardo Leite a acreditarem que o jogo a ser jogado é jogo amistoso, desses em que até os pipoqueiros sentem sono, a situação é outra.
Qual, afinal, é a situação? Eduardo Leite será para o candidato do Paço o que Luiz Zacarias também estaria pronto para ser. Ou seja: um adversário empedernido, motivado, com bala na agulha e sangue nos olhos. Democracia se faz assim, entre outros condimentos. O resto é patifaria.
Tudo que o Paço Municipal de Santo André mais temia, após o dilúvio transformador do ambiente de já-ganhou detonado pelos dissidentes que agora estão com Luiz Zacarias, era ter sinalizações de que o bom-moço Eduardo Leite, do PSB, partido do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, seria um concorrente apenas para inglês ver, o qual, agora no já admitido segundo turno, vestiria imediatamente a camisa do provável candidato do Paço, o jovem Gilvan Junior.
GILVAN ISOLADO?
Essa tapeçaria de conveniências partidárias e eleitorais foi para a cucuia com toda a pompa, circunstâncias e lambança. Tudo porque existe uma lógica compulsória na política, por mais que se tente driblá-la. Trata-se do seguinte: quando a água ameaça engolir as probabilidades previamente construídas, não há alternativa senão buscar um barco de salvação.
O barco de salvação de competitividade de Eduardo Leite chama-se Eduardo Leite, não Gilvan Júnior. Tampouco os apoiadores de Gilvan Júnior.
Há conjecturas externas que contribuíram à arremetida sem mais vacilos de Eduardo Leite pela Prefeitura de Santo André. Se a botafogada do Paço Municipal rompeu os diques de uma acomodação confortável do Grupo dos Nove Privilegiados, o que ocorre fora do circuito local é que o PSB provavelmente detectou em Eduardo Leite a oportunidade aproveitar a maré de maus agouros em Santo André da turma de Paulinho Serra.
Há sinalizações da meteorologia política que apontam tempestades e chuvas torrenciais nos redutos de potenciais votos mais expressivos dos situacionistas. Gilvan Junior não canalizaria as atenções desejadas pelos grupos do prefeito Paulinho Serra que a princípio viram no jovem secretário de Saúde uma boa alternativa. Esse grupamento, a bem da verdade, minguou na medida em que o Grupo dos Nove Privilegiados provocou estresses. Eduardo Leite, Coronel Sardano e Luiz Zacarias zarparam das asas de Paulinho Serra.
JOGADA VICIADA
Sabe-se que não existe nenhuma jogada viciada no processo que decantou de vez e que coloca Eduardo Leite como peça do jogo embaralhado da disputa em Santo André. Não se trataria mesmo de uma empreitada dissimuladora, como alguns especulam. O vereador, até outro dia filiado ao PT, estaria seguindo uma rotina da vida política em época de eleições, ao fingir uma coisa porque estaria de olho em outra. Não é esse o caso.
Nesse caso o que se tem como certo e definitivo é que Eduardo Leite vai mesmo para as urnas eletrônicas com o suporte do PSB e de mais alguns partidos agregados. Mais que isso: o PSB teria chegado à conclusão de que Santo André virou uma terra sem lei de probabilidades eleitorais definidas, ou seja, sem favoritismo, e, com isso, estimularia a conversão de recursos de campanha em nível muito maior e prioritário do que se ensaiava até outro dia.
Trocando em miúdos: O PSB de Geraldo Alckmin e do ministro Marcio França tem bala na agulha de repartição de financiamento eleitoral para fazer de Eduardo Leite mais que um nome bonito, sem manchas e que até outro dia convivia em paz com o prefeito de Santo André.
LINHA AUXILIAR
Aliás, o fato de Eduardo Leite ser até outro dia uma espécie de linha auxiliar do prefeito Paulinho Serra em termos de intepretação de valores administrativos durante dois mandatos não o implicaria em encalacramento para encaixar discursos contrários à atuação do tucano.
Eduardo Leite teria supostamente o salvo-conduto de não ter criado hostilidade com os eleitores mais fieis de Paulinho Serra, ao mesmo tempo em que, dissidente confirmado, criaria espécie de proteção à fundamentação de críticas que o teriam levado a um novo posicionamento.
Não é mesmo uma tarefa fácil sair de apoiador a crítico da Administração que até outro dia o considerava um parceiro de jornada, mas os estrategistas de Eduardo Leite não são bobos nem nada. Eles pretendem mesmo enfeitiçar os eleitores de centro-esquerda e de esquerda na configuração de uma nova canção eleitoral. Quem sabe até eleitores de centro, no vácuo do período em que Eduardo Leite foi apoiador de Paulinho Serra.
Para tanto, basta não negar os pontos sobre os quais abençoou a gestão de Paulinho Serra e pegar pelo chifre crítico os demais ramais governistas. A vantagem de Eduardo Leite, salvo engano, é que não há registros de pontos amplos de suporte à Administração de Paulinho Serra. São comentários mais genéricos que específicos. Dessa forma, a rota que deverá tomar não será uma tortuosa vicinal. Há uma autoestrada pela frente.
BETE MAIS EDUARDO
Há um vetor de indispensável abordagem nessa reviravolta concorrencial agora mais seguramente múltipla em Santo André. Trata-se das relações das porções de centro-esquerda e esquerda de Santo André, que asseguraram a Lula da Silva 48% dos votos válidos no segundo turno das eleições de 2022.
O PT e o PSB, que dividem a presidência e a vice-presidência da República, vão correr em raias separadas e respeitosas no primeiro turno, mas a embocadura de coalizão de forças no segundo turno estaria planejada.
O que isso significaria? Que para não deixar pedra sobre pedra de que o PSB e o PT querem a cidadela de Santo André sob a guarda eleitoral mais confiável nas eleições presidenciais de 2026, tanto Lula da Silva quanto Geraldo Alckmin meteriam a cara nas ruas para apoiar presencialmente um Eduardo Leite ou uma Bete Siraque.
Sim, Bete Siraque, embora supostamente menos poderosa nas urnas (isso é pura especulação, porque não há pesquisas confiáveis ainda na praça) faria com Eduardo Leite uma cruzada pela vitória e uma governança junta e misturada. Bem melhor, calculam os opositores de esquerda, que os últimos anos alinhados ao governo de Paulinho Serra, um redemoinho de ideologias e partidarismo.
NA MÃO OU VOANDO?
Ainda tenho muito a escrever sobre essa nova estocada no saco de areia já perfurado da Administração de Paulinho Serra. Afinal, o que mais o prefeito e seus apoiadores temiam era exatamente o que Eduardo Leite decidiu romper: uma venda nos olhos do facilitarismo de jogo combinado que faria do candidato do PSB apenas um joguete eleitoral que se satisfaria com qualquer coisa no suposto próximo governo situacionista.
O grito de alforria de Eduardo Leite nesse momento é um golpe no Paço Municipal. A ideia, segundo avaliações da campanha de Eduardo Leite, era a neutralização do crescimento eleitoral do PSB até o ponto em que, quando acordasse, não reuniria mais força de propulsão. Como se sabe, o tempo faz a diferença em tudo na vida. O que é bom agora pode ser péssimo amanhã. Eduardo Leite preferiu o hoje e agora. A melhor ter à mão uma andorinha de apoios mensuráveis do que acompanhar o voo de andorinhas de promessas voláteis.
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