Política

Morando, Tite e Zacarias
ganham. Veja quem perde

DANIEL LIMA - 08/04/2024

A primeira semana de abril deu a largada oficial à disputa pelas prefeituras da região. E nos três principais endereços, que representam 70% do PIB regional, quem largou na frente foram o prefeito Orlando Morando, o vereador Tite Campanella e o vice-prefeito dissidente Luiz Zacarias. É o que vamos explicar em seguida sem deixar de alertar sobre a fragilidade de conjecturas eleitorais com  margem de 50% de acerto ou de erro. Quando a humanidade for menos imprevisível, quem sabe a margem de erro seja bem inferior.

Se Orlando Morando, Tite Campanella e Luiz Zacarias  deram os primeiros passos vitoriosos, outros perderam. Para alguém ganhar é preciso  (é mesmo?) que alguém perca. A linguagem dilmista é proposital. Quem mais perdeu foram Alex Manente, Fabio Palacio e o prefeito Paulinho Serra.  Isso não quer dizer que não possam ganhar na próxima. Ou na próxima da próxima.

Não é fácil chegar à conclusão que indica vencedores e, consequentemente, perdedores. Nem sempre o movimento das pedras é perceptível a olhos menos treinados,  a mentes obtusas e também ao incremento da criatividade. Ou seja: é preciso ter alguma versatilidade e profundeza mesmo que especulativa  para atribuir valores de vencedores e derrotados parciais ou definitivos. E mesmo assim o que temo são porcos em ziguezagues a desafiar captura em campo aberto. Vamos então aos casos específicos?

MEIO CONGESTIONADO

Começando por São Bernardo, onde o anúncio de que Flávia Morando é a candidata indicada por Orlando Morando e o lançamento da esperada candidatura do ex-deputado federal e ex-vice-prefeito Marcelo Lima atropelaram o concorrente Alex Manente. Sem contar que, também nesse sentido, a provável escalação do ex-prefeito William Dib na chapa encabeçada pelo petista Luiz Fernando Teixeira sufocaria de vez os planos de Alex Manente.

Expliquei durante uma das análises da semana passada que Flavia Morando entrou no jogo para fazer composição informal  com Marcelo Lima sem que isso significasse jogo amistoso entre eles, que vão competir sim entre si. Também expliquei que Alex Manente correria com Luiz Fernando Teixeira em raias paralelas, sempre de forma complementar, mas não amistosa. São a direita, o centro, a meia-esquerda e a esquerda com respectivas táticas para chegar ao segundo turno.

O problema de Manente é que a classe média em que ele tem entrada de votação em maior escala vai estar povoadíssima de eleitores de Flavia Morando e possivelmente William Dib. Com isso, estreita-se a margem de manobra. Talvez só restaria a Manente, numa tentativa de mudar o quadro, contar com o socorro de algum figurão conservador para engrossar os palanques virtuais e físicos.   

REFORÇO CONSERVADOR

O governador Tarcísio de Freitas e mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro seriam a esperança de Manente, que deve ter como candidato a vice o vereador Paulo Chuchu, bolsonarista de carteirinha. Resta saber se os dois nomes que mais se antepõem ao petismo de Lula da Silva viriam mesmo. Até porque as relações de Tarcísio de Freitas com Orlando Morando são mais maduras, embora ocupem partidos distintos.

Há muitos desdobramentos possíveis, mas o principal é a base da corrida que se estabeleceu. O PT de Luiz Fernando Teixeira segue sem muito gás, mas tem praticamente a metade da cidade de vermelho, um vermelho mesmo diferente nas eleições presidenciais, porque mais forte com Lula da Silva competindo diretamente, é sempre vermelho a ser respeitado.

Morando largou vitorioso na semana porque praticamente esquadrinha um limite à votação potencial de Alex Manente nos bairros de classe média e média baixa. Manente também perde viscosidade na periferia, onde o mesmo Orlando Morando é vem avaliado. Os pesos e contrapesos que marcam a jovem Flavia Morando não impedem, em princípio, possibilidade se chegar ao segundo turno. O prestígio do tio é elevado em todas as áreas de São Bernardo.

TITE SURPREENDE

Em São Caetano a surpreendente liderança da chapa do vereador e ex-prefeito interino Tite Campanella, em detrimento da secretária de Saúde  Regina Maura Zetone, pode ser explicada de várias maneiras.

Primeiro, Tite  Campanella foi hábil no reforço à candidatura tendo o governador Tarcísio de Freitas como apoiador no interior do PL. Segundo, pesquisas internas indicavam que a candidata preferida do prefeito, Regina Maura, tem dificuldades de convencer eleitores de São Caetano de que ultrapassaria a barreira de gênero numa cidade conservadora, além de carregar ônus de rejeição nas eleições de 2012, quando foi derrotada pelo então vereador Paulo Pinheiro.

Havia um risco iminente de que Regina Maura no comando da chapa provocaria o deslocamento de Tite Campanella em direção a Flávio Palacio, o candidato mais forte da oposição que restou no jogo em São Caetano. Aos poucos o estremecimento de relações entre o prefeito José Auricchio e Tite Campanella foi sufocado.

PALACIO ESVAZIADO

Tite dirigiu São Caetano durante um ano, em 2021,  por causa da pendência legal da vitória de Auricchio na Justiça Eleitoral. O período em que Tite Campanella flertou com adversários políticos e midiáticos de José Auricchio parecia ter condenado as relações a iniciativas protocolares.

A costura que uniu Tite  Campanella e Regina Maura parece ter colocado a candidatura de Fabio Palacio na situação do motoqueiro que, ao tentar ultrapassar um caminhão numa ponte estreita, acabou arremessado rio abaixo. A disputa pela Prefeitura de São Caetano estaria praticamente encerrada.

Talvez nem seja preciso convidar o governador Tarcísio de Freitas para uma visita promocional da candidatura de Campanella. Não se pode esquecer que São Caetano conta com apenas um turno de disputa. Como dos três principais candidatos dois estão no mesmo barco, Fabio Palacio parece desgarrado, sem condição de aproveitar sequer o vácuo para se manter competitivo.

ZACARIAS SOBE

Em Santo André, a vantagem do candidato Luiz Zacarias na semana passada se deve mais aos erros contínuos da candidatura do Paço Municipal, ainda não definida. O secretário de Saúde Gilvan Junior, preferido do dono do Diário do Grande ABC e de alguns grupos que estão no entorno do prefeito Paulinho Serra, ainda não decolou em pesquisas preliminares. Como há resistência ao jovem que também no Semasa, o advogado Leandro Petrin segue como opção.

Gilvan e Petrin deverão formar a chapa governista. Há desconfiança de que não tenham apelo popular no sentido subjetivo da expressão. No sentido efetivo, fariam da periferia o maior potencial de votos. É claro que precisariam combinar com a candidatura do PT, provavelmente de Bete Siraque. Se o PT  do Bolsa Família disputar para valer, a votação da chapa situacionista não repetiria o domínio avassalador da primeira-dama Carolina Serra. A mulher do prefeito obteve 85% dos votos a deputada federal em Santo André com programas dirigidos aos pobres e miseráveis e contando, também, com candidatos do Paço que entraram apenas como coadjuvantes, cabos eleitorais de chapas casadas.

PAÇO EM TURBULÊNCIA

As indefinições no Paço Municipal, somadas ao ambiente de nervosismo e bate-cabeça provocado pela dissidência do vice-prefeito Luiz Zacarias, preterido como candidato oficial, tornaram o ambiente na torre do Executivo uma sucessão de reuniões estressantes.  

O Paço vê os oposicionistas avançarem no mínimo para o esticamento da disputa ao segundo turno, quando antes tudo parecia encaminhar-se à definição em turno único. É o contorno de uma botafogada.

A campanha de Luiz Zacarias aparentemente ainda tem dificuldades de conciliar interesses diversos, mas o adversário do Paço ajuda a lubrificar as engrenagem motivacionais. Não bastasse a insatisfação com a candidatura de  Gilvan Junior, as hostilidades públicas a Luiz Zacarias revelam que há inquietação com o ex-integrante do grupo.

Numa cerimônia de abertura da Feira da Fraternidade, por exemplo, o prefeito e a primeira-dama Carolina Serra foram flagrados a incentivar um secretário, André Scarpino, a tomar o lugar de Luiz Zacarias na ponta oposta em que se encontravam. A filmagem é digna de comédia. Luiz Zacarias desvencilhou-se polidamente do robusto secretário. As fotos são suficientes para identificá-lo como alguém que acabara de executar um deslocamento amistoso de ombro e de cabeça no oponente que, mesmo assim, ocupou parte do espaço do vice-prefeito, deixando-o em segundo plano.

QUEM TEVE A IDEIA?

A única dúvida que resta é se o prefeito Paulinho Serra sussurrou mesmo ao ouvido da primeira-dama a ideia da obstrução corporal ao vice-prefeito, ou se a iniciativa  foi da primeira-dama.

Duas semanas antes disso, o prefeito Paulinho Serra deu ordens à suspensão de homenagem à Acisa, Associação Comercial e Industrial de Santo André, na Câmara de Vereadores. Foi cortada a energia elétrica poucas horas antes do evento. Tudo porque o vice-prefeito Luiz Zacarias enviou convite oficial e personalizado aos associados da entidade. A homenagem fora proposta pelo filho de Luiz Zacarias, vereador Lucas Zacarias.

Quem acompanha mais de perto os bastidores e mesmo eventos da programação de aniversário de Santo André já capturou outros incidentes envolvendo direta ou indiretamente o prefeito e o vice-prefeito de Santo André. Há indisfarçável mal-estar entre eles e respectivos assessores. Não parece haver dúvida de que ao ganharem as redes sociais, as escaramuças constroem um encadeamento mais favorável à imagem de Luiz Zacarias,  por estar sempre na condição de alvo de retaliação.

O caso da Acisa não conta com provas materiais do mandante, mas saiu da zona de eventual dúvida para o terreno da mais que provável realidade após a interposição corporal do secretário na festa de abertura da Feira da Fraternidade.

A cena não deixa dúvida do incômodo causado pela presença do vice-prefeito. O incidente invadiu as redes sociais, mas não foi replicado na maioria dos jornais de papel e digitais alinhados a Paulino Serra.



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