Política

Paulinho sai da casamata
e escorrega no picadeiro

DANIEL LIMA - 14/03/2024

A entrevista que Paulinho Serra cedeu ao Diário do Grande ABC de hoje sobre a botafogada iminente nas eleições desta temporada retirou o prefeito de Santo André da casamata da soberba e da arrogância e o lançou a um escorregadio picadeiro de futricas, ressentimentos e tudo aquilo que político experiente jamais cometeria e políticos novatos no Executivo deveriam evitar.  

Paulinho Serra não suportou o aperto dos fatos e busca construir versões que aliviem a barra pesada que o incomoda. Num clássico de atacar para esconder os problemas na gestão de uma sucessão eleitoral tabajarense, Paulinho Serra cometeu série de deslizes. Deixou flancos a contragolpes. Amesquinhou-se numa espécie de briga de rua eleitoral. Um vale-tudo que provocará mais danos.

O que mais me impressiona é constatar a cada dia, e a entrevista de hoje é um prêmio dedicado à estupidez de marketing, como o prefeito de uma das maiores cidades do Estado e pretendente a voos muito além dessas paragens eleitorais se lança tão precipitado a um contra-ataque que só se configura contra-ataque porque outras mídias, principalmente CapitalSocial, tem-se dedicado ao assunto.

MUITOS TROPEÇOS

O jornal ao qual recorreu o prefeito praticamente ignorava a crise porque é do feitio do jornal tratar Paulinho Serra com desvelo total. Os leitores desatentos, portanto, não encontrariam jamais a raiz da exacerbação verbal nas páginas do Diário do Grande ABC. Até porque o outro lado não foi ouvido. Há diferentes formas de ser ouvido. Existem aqueles que não são ouvidos porque se fecham a terceiros. Outros são simplesmente excluídos.

Uma notinha protocolar, quase inalcançável a olhos mesmo treinados, fez referência à saída do vice-prefeito da tutela do prefeito Paulinho Serra. Nada que parecesse anormal, quando anormal era de cabo a rabo. Aliás, como escrevemos aqui na mesma data. Daí à resposta de hoje, uma tamanha discrepância.

Fora esse tropeção tático, ou seja, de dar resposta a questões que não constaram da pauta do jornal a que recorreu para tanto, outros tropeços se seguiram.

ZACARIAS ESPERTO

O principal é que Paulinho Serra sentiu o cruzado no queixo da soberba e agora, em desespero, pretende remediar o que parece irremediável. Tanto que partiu para o ataque contra o vice-prefeito Luiz Zacarias, embalado pelo PL do presidente da República e provavelmente em seguida pelo Republicanos do governador do Estado.

Esse sim, Luiz Zacarias, promoveu um golpe de mestre. Enquanto o grupo de Paulinho Serra o fritava, manobrou junto aos poderosos que têm massa crítica e estrutura para capitalizar a campanha eleitoral.

Mais que fissura, isso é um rombo na fuselagem eleitoral do prefeito altamente popular. Uma Botafogada, como tenho insistido em rotular.

A impetuosidade com que Paulinho Serra se lançou nas páginas do Diário do Grande ABC em direção ao vice-prefeito Luiz Zacarias seria traduzida por qualquer psicanalista como enfermidade geradora de desequilíbrio emocional de raízes inquietantes. Fosse apenas uma dor de cabeça, bastaria uma farmácia popular para resolver o problema.

Até outro dia de braços dados com Luiz Zacarias em muitas das ações públicas que as redes sociais exaltam, Paulinho Serra simplesmente desqualifica o agora candidato independente do Paço Municipal. A brincadeirinha dos Nove Preferidos deu com os burros nágua porque, como expliquei ontem, tudo não passava mesmo de encenação.

UMA DIA DE FÚRIA

Paulinho Serra parece incontrolável na fúria de ter-se dado conta de que a farsa não durou além das evidentes predileções pelo secretário de Saúde, Gilvan Junior. O mesmo secretário que, de favorito até a crise explodir, agora divide probabilidades oficiais, segundo declarações do próprio prefeito, com dois concorrentes do Grupo dos Nove, Leandro Petrim e Almir Cicote. Parece que Gilvan ruma ao paredão.

As declarações de Paulinho Serra no Diário do Grande ABC são o retrato falado do imperialismo da Administração de Santo André, denunciada há muito tempo por este jornalista. A camaradagem das fotos e dos vídeos que frequentam as redes sociais é a cara pública de quem é realmente popular, mas esconde o jogo de muitos erros e exageros do gabinete principal do Paço Municipal.

Ao dar uma estilingada nas ventas do vice-prefeito, Paulinho Serra contrariou todo o capricho com que foi contemplado ao longo de anos para vender a imagem de alegria, empatia, responsabilidade e tudo o mais. A reportagem do Diário do Grande ABC foi um tiro pela culatra também para o jornal, que tomou as dores do prefeito. Insisto em lembrar que o jornal deu uma resposta a uma ruptura que o próprio jornal ignorou no noticiário pretérito.

RECUO EVIDENTE

O recuo do prefeito Paulinho Serra é notório: tudo estava encaminhado para anunciar o candidato situacionista antes do aniversário da cidade, em oito de abril. Agora, pressionado, jogou o prazo para meados do ano, quando as peças eleitorais já estariam definidas nos respectivos partidos e eventuais dissensões seriam impedidas ou mitigadas por força da legislação eleitoral.

Para corrigir uma bomba de efeito desastroso em forma de retirada do vice-prefeito, de dissidência do deputado federal Fernando Marangoni e também da saída à francesa do vereador e ex-secretário Coronel Sardano, tudo isso em evidente desconfiguração do desenho de amestramento, Paulinho Serra acena com um esticamento de prazo de escolha que pode ser ainda mais desastroso. A citação de três concorrentes, nestas alturas do campeonato, não passa de um equívoco sobressalente, porque intensificaria pendências idiossincráticas.

Paulinho Serra e sua turma estão conseguindo a proeza de colocar no jogo adversários que não acreditavam na própria sorte e aliados que cansaram de se submeter às manipulações de quem acredita que a sabedoria politica só faz moradia na principal cadeira da torre do Executivo de Santo André e de seus amigos do peito, conselheiros trapalhões.

PREMIO ESPECIAL

Ao se ver fora da casamata que o protegia e o embalava, quando não o estimulava a apertar o cerco como mandachuva irrepreensível, dono da verdade e das vontades, Paulinho Serra se vê no centro de um picadeiro de circo mambembe de periferia. Pior que isso: não tem a mostrar graça alguma porque agora tem que se virar nos trinta para minimizar os passos em falso que provavelmente vão levar a disputa pela Prefeitura de Santo André a lances dramáticos. Basta aos oposicionistas terem um mínimo de discernimento, coragem e paixão pelo contraditório. A Santo André imperialista está em crise. Viva a democracia!

Não seria inadequado sugerir que Paulinho Serra, mesmo que às avessas, seja contemplado com algum prêmio que o remeta como símbolo de fortalecimento das instituições, hoje silentes, submissas e desavergonhadamente oportunistas. De premiação a gestão de Paulinho Serra entende.



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