Grande ABC na lanterninha
do PIB per capita neste século

Não dá para brigar com os novos resultados do PIB dos Municípios Brasileiros divulgados pelo IBGE: o Grande ABC é o fim da estrada em matéria de PIB per capita, uma das métricas mais respeitadas, embora controversa, para dimensionar medir a temperatura de geração de riqueza de uma sociedade. No G-22, o Clube dos Maiores Municípios do Estado de São Paulo (menos a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para completar o time regional), ocupamos sete das oito últimas colocações.
Apesar disso e de muito mais (que estamos cansados de analisar ao longo dos últimos 30 anos de revista de papel LivreMercado e desta revista digital), as instituições da região seguem em berço esplêndido, sobretudo as autoridades públicas municipais.
Os prefeitos de agora e os antecessores, exceto Celso Daniel, exercitam continuamente o papel diversionista de músicos do Titanic: procrastinam o futuro em nome do imediatismo oportunista.
Metodologia implacável
O G-22 é implacável na mensuração do andar da carruagem da economia do Grande ABC porque deixa o velho vício acomodatício de comparar o Grande ABC com o Grande ABC. Esse tipo de embate porque transforma o território regional em um mundo particular, como se não houvesse mais nada num contexto que vem de longe e que, em síntese, transformou tudo em Aldeia Global de velocidade alucinante movida pela tecnologia da informação.
Análises circunstanciais que levem em conta apenas os sete municípios do Grande ABC têm espaço, é claro, mas precisam ganhar flexibilidade territorial. É o que o G-22, montado por este jornalista como base nos maiores endereços de PIB do Estado, expõe. E os embates extraterritoriais não se limitam ao campo econômico. Há inúmeros indicadores que desmascaram verdades gelatinosas instrumentalizadas por agentes manipuladores. Inclusive acadêmicos entregues às garras do corporativismo e da ideologia.
Falseando lideranças
O G-22 é um tapa na cara de políticos e representantes de instituições que passam cada temporada a dourar a pílula do Grande ABC. Mentem descaradamente. Criam-se falsos líderes que não suportam o peso da realidade. Esse jogo de faz-de-contas é desqualificado a cada ano em que, entre outros indicadores, o PIB dos Municípios aparece à avaliação. Os dados desta análise se referem ao ano de 2018, divulgados quarta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Agora que se aproxima mais uma farsa institucional com configuração supostamente moderna (a eleição do prefeito Paulinho Serra para comandar o Clube dos Prefeitos, repetindo mandato já consumado no passado sem qualquer inovação digna de registro), mostrar os dados relativos do PIB per capita do G-22 neste século é uma senhora oportunidade à tomada de pulso de uma realidade inquietante que se renova nesta publicação.
Imagine que o G-22 (e nesse caso considere apenas os 20 maiores municípios, deixando de lado Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) seja uma espécie de Campeonato Paulista da Série A-1 de Produção de Riqueza. Pegue os 20 municípios e faça uma classificação geral nos 19 primeiros anos deste século. Teríamos nada menos que cinco entre os seis últimos colocados. Três seriam rebaixados (São Bernardo, São Caetano e Diadema), um estaria próximo disso (Santo André) e apenas São José dos Campos, também vítima de descenso, não pertence à geografia regional. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra também tiveram desempenho de rebaixados.
Debilidade socioeconômica
O ranking que mostramos logo na sequência é implacável com o Grande ABC. Nem poderia ser diferente. Por razões que já expliquei e esmiucei ao longo dos anos, perdemos a competitividade econômico e somos o endereço preferencial de excluídos sociais. Os contingentes de famílias de classe rica e classe média tradicional são permanentemente reduzidos em termos absolutos e relativos. E o universo de pobres e miseráveis cresce nos dois sentidos. Contamos com 2.840 milhões de habitantes e temos, juntas, uma São Caetano e uma Diadema de excluídos sociais.
Os 20 integrantes do G-22 podem ser distribuídos para efeito de ranking de competitividade em três grupos. O primeiro é ocupado apenas por Osasco, líder no rendimento de PIB por habitante neste século, com crescimento médio anual de 6,89%, sem considerar a inflação do período. Quando se considera o IPCA acumulado no século, de 321,09%, Osasco segue nadando de braçadas.
O segundo bloco é ocupado por municípios que cresceram nominalmente em média por ano mais de 3%, casos de Piracicaba, Jundiaí, Barueri, Santos, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba, Mogi das Cruzes, Sumaré, Taubaté, Campinas e Paulínia. E o terceiro bloco conta com municípios que cresceram em média menos de 2% (sempre em termos nominais) nos últimos 19 anos, casos de Paulínia, Guarulhos, Mauá, Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e São José dos Campos.
Recessão e estagnação
Para que se tenha uma compreensão mais próxima do ideal quanto ao desempenho anual do PIB de cada um dos municípios do G-22 o ideal é confrontar o resultado com a inflação média anual do período, de 1,70%, que é o resultado da divisão da inflação acumulada de 321,09% por 19 anos. São Caetano, Diadema, São José dos Campos e Rio Grande da Serra perderam a corrida para a desvalorização da moeda. Ou seja: estão tecnicamente em recessão prolongada. Os demais municípios do Grande ABC estão próximos a isso.
A matemática da desesperança, entretanto, não se configura, em caso de PIB per capita, simplesmente por conta do confronto entre crescimento nominal médio a cada ano e a inflação média anual do período. Municípios como os do Grande ABC que superaram escassamente esse desafio mergulharam em dificuldades porque estão muito aquém do desempenho dos demais integrantes do G-22.
Peguemos o exemplo de Santo André, que cresceu nominalmente 1,79% ao ano ante o desgaste da moeda nacional de 1,69%. A diferença é tão estreita (0,10% ao ano) que mal pode disfarçar o desastre econômico no século. Comparar com a líder Osasco, vizinha na Grande São Paulo, é covardia. A vizinha Santos, quinta colocada no ranking de crescimento médio no século, registrou média anual de 2,94%. Uma velocidade superior de avanço da ordem de 40%. Quem conectar os dois resultados (e tantos outros de municípios da região com a capital da Baixada Santista) acabará encontrando o fio da meada de explicações: o trecho sul do Rodoanel favoreceu tremendamente municípios daquela área geográfica (e ainda mais da Grande Osasco), mas não existe qualquer movimento da região em torno de alternativas para minimizar o desequilíbrio econômico gerado pela mega estrada.
Ranking do século
1. Osasco registrou PIB per capita de R$ 7.799,15 em 1999 e passou para R$ 109.936,21 em 2018. Crescimento nominal de 1.309,60% no período, com média anual de 6,89%.
2. Piracicaba registrou PIB per capita de R$ 8.613,54 em 1999 e passou para R$ 65.896,34 em 2018. Crescimento nominal de 665,03% no período, com média anual de 3,50%.
3. Jundiaí registrou PIB per capita de R$ 14.408,47 em 1999 e passou para R$ 105.187,65 em 2018, com crescimento nominal de 630,04 no período e anual de 3,31%.
4. Barueri registrou PIB per capita de R$ 27.801,29 em 1999 e passou para R$ 186.382,33 em 2018, com crescimento nominal no período de 570,41%, e anual de 3,00%.
5. Santos registrou PIB per capital de R$ 7.878,69 em 1999 e passou para R$ 51.915,03 em 2018, com crescimento nominal de 558,92% no período, e anual de 2,94%.
6. Ribeirão Preto registrou PIB per capital de R$ 7.503,41 em 1999 e passou para R$ 49.425,29 em 2018, com crescimento nominal de 558,70% no período, e anual de 2,94%.
7. São José do Rio Preto registrou PIB per capita de R$ 6.132,85 em 1999 e passou para R$ 38.449,70 em 2018, com crescimento nominal de 526,96% no período, e anual de 3,30%.
8. Sorocaba registrou PIB per capital de R$ 8.712,91 em 1999 e passou para R$ 52.169,13 em 2018, com crescimento nominal de 498,76 no período, e anual de 2,65%.
9. Mogi das Cruzes registrou PIB per capita de R$ 5.876,26 em 1999 e passou para R$ 34.908,31 em 2018, com crescimento nominal de 494,06% no período, e anual de 2,60%.
10. Sumaré registrou PIB per capita de R$ 9.627,90 em 1999 e passou para R$ 51.832,02 em 2018, com crescimento nominal de 438,35% no período, e anual de 2,31%.
11. Taubaté registrou PIB per capita de R$ 10.549,62 em 1999 e passou para R$ 55.369,58 em 2018, com crescimento nominal de 424,85% no período, e anual de 2,24%.
12. Campinas registrou PIB per capita de R$ 10.117,83 em 1999 e passou para R$ 51.417,44 em 2018, com crescimento nominal no período de 408,19%, e anual de 2,15%.
13. Paulínia registrou PIB per capita de R$ 63.451,94 em 1999 e passou para R$ 306.163,17 em 2018, com crescimento nominal de 382,51% no período, e anual de 2,01%.
14. Guarulhos registrou PIB per capita de R$ 9.580,66 em 1999 e passou para R$ 44.897,70 em 2018, com crescimento nominal de 368,63% no período, e anual de 1,94%.
15. Mauá registrou PIB per capita de R$ 7.368,18 em 199 e passou para R$ 32.655,23 em 2018, com crescimento nominal de 343,15% no período, e anual de 1,81%.
16. Santo André registrou PIB per capita de R$ 9.201,16 em 1999 e passou para R$ 40.489, 21 em 2018, com crescimento nominal de 340,04%, e anual de 1,79%.
17. São Bernardo registrou PIB per capita de R$ 14.088,99 em 1999 e passou para R$ 60.689,23 em 2018, com crescimento nominal de 330,76% no período, e 1,74.
18. São Caetano registrou PIB per capita de R$ 22.016,46 em 1999 e passou para R$ 83.860,23 em 2018, com crescimento nominal de 280,90% no período, e anual de 1,48%.
19. Diadema registrou PIB per capital de R$ 11.114,45 em 1999 e passou para R$ 34.855,75 em 2018, com crescimento nominal no período de 213,61, e anual de 1,12%.
20. São José dos Campos registrou PIB per capita de R$ 18.395,00 em 1999 e passou para R$ 55.603,18 em 2018, com crescimento nominal de 202,27% no período, e anual de 1,06%.
21. Ribeirão Pires registrou PIB per capita de R$ 5.817,56 em 1999 e passou para R$ 24.818,57 em 2018, com crescimento nominal no período de 326,61 no período, e anual de 1,72%.
22. Rio Grande da Serra registrou PIB per capita de 3.597,38 em 1999 e passou para R$ 60.689,23 em 2018, com crescimento nominal de 213,63 no período, e anual de 1,12%.
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